A saída a fórceps do senador Tasso Jereissati do comando do PSDB, operada por seu colega de partido Aécio Neves, e o acirramento da divisão interna de uma das principais legendas, no poder e na oposição, pós-redemocratização, escancarou a crise no ninho tucano e, como efeito colateral grave, deixou emplumado quem defende um nome heterodoxo para a disputa. Saia ele ou não da família social-democrata. Dentro do PSDB, quem se aliou contra o lado negro da força só vê uma alternativa honrosa: o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O prefeito João Doria, que de fenômeno no final do ano passado, ao vencer no 1º turno na capital paulista, passou a justificar o apelido jocoso de “prefake”, tantos foram os erros que cometeu, já é visto uma espécie de emu, aquela ave vistosa que, embora tenha asas, não voa. O caso é que o piti esparrama-penas de Aécio, seja intencional ou não, jogou alpiste na direção do aventureiro global Luciano Huck.
Huck, amigo de Aécio há quase duas décadas – fotos dos dois juntos desde a última campanha presidencial são figurinhas carimbadas no google – não deve sair pelo PSDB. Se José Serra tem dificuldades em aceitar Doria no Palácio dos Bandeirantes – até porque imagina o papel para ele mesmo -, imagine numa eleição casada com Huck concorrendo ao Planalto por sua legenda.
Não faltarão, porém, legendas dispostas a alugar seu espaço para a publicidade global. Quem já disse “eu quero” foi o PPS, segundo jornais e revistas. O apresentador do Caldeirão participou nas últimas semanas de reuniões com líderes do PPS, como Roberto Freire e o ministro Raul Jungmann, além de satélites partidários, como Armínio Fraga, para discutir cenários eleitorais e a entrada no partido de membros do movimento Agora!, do qual é participante. O tal Agora! não esconde esses contatos. O próprio Huck parou de esconder.
Chamou a atenção, nesse contexto, digamos, global, coluna de Merval Pereira, no Globo de sábado, 11, intitulada “O fator Huck”, dando a candidatura como quase viabilizada politicamente. E como a Globo, pós-William Waack, vê tudo isso? Segundo a coluna Radar, da revista Veja, a cúpula do grupo deu um ultimato, no bom sentido, em Luciano Huck. Ficou decidido que, se ele quiser mesmo abraçar a política, terá que sair da emissora até dezembro. O apresentador já até sonharia com Marina Silva para vice, ainda de acordo com o colunista Maurício Lima, de Veja. Merval Pereira diz que o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, do PMDB, é outro darling do artista global.
Uma pesquisa no site de registro de domínios na internet mostra que LucianoHuck2018.com.br está indisponível. Não se sabe se foi o próprio, o Agora! ou um fã anônimo.
Daqui a um ano, quando estivermos estudando a gênese dessa campanha, e dessa eleição que se anuncia duríssima – e talvez lastimável -, poderemos avaliar se o “Fator Huck”, agora apenas nas sombras, foi uma ventania atoa, uma tempestade passageira que se anunciou como um furacão ou uma catástrofe tão irresistível quanto demolidora na vida política nacional. Huck será, então, mais do mesmo no entretenimento global ou uma experiência político-midiática sem precedentes num país que não cansa de brincar com sua democracia.