Até parece pegadinha, mas não é. Agora deu para aparecerem sindicalistas querendo acelerar a reforma da previdência. A tese é simples: um Congresso em extinção é mais fraco que um parlamento novinho em folha. Melhor agora para obter concessões. Ou, numa linguagem mais política, para negociar com o governo.
Neste primeiro momento as lideranças mais embaladas para levar a negociação diretamente à Câmara são as dos sindicatos de servidores públicos, pois no anteprojeto em vias de ir a votação não se prevê uma regra de transição para o funcionalismo. Somente os celetistas do INSS têm aquelas ressalvas de idade no projeto em pauta. O pessoal concursado não.
O raciocínio dos trabalhadores é singelo: melhor negociar com um parlamento em extinção, fraco, temeroso do que enfrentar a ira dos eleitores. Já uma Câmara novinha, vitoriosa e cheia de poder, pode não se render às pressões corporativas.
No outro lado, deputados que já tinham abandonado a barca da reforma da previdência estão incrédulos com esses novos posicionamentos. “Estão preparando um golpe para cima de nós”, denuncia um velho dirigente de um sindicato de metalúrgicos da Serra Gaúcha. Sua advertência está dando um clique na cabeça de muitos dirigentes de outras regiões do País, especialmente do setor público, que ficaram sem muita margem de negociação. Diz o veterano dirigente: “Os políticos querem deixar para depois da eleição porque então podem vir com uma reforma radical e terão quatro anos para se recuperar. Melhor agora”.
Quando esse novo imbróglio surgiu nas redes sociais na tarde de ontem, segunda-feira, o governo estava desmontado, com o presidente Michel Temer deixando o hospital em São Paulo. Não houve reação.
Entretanto, o vice-líder do PMDB, deputado Mauro Pereira, um dos políticos mais próximos do presidente e formulador de políticas no Palácio do Planalto, presente no plenário da Câmara, em Brasília, reagiu com certo ceticismo: “Deve ser uma pressão para negociar. Se for isto, vamos conversar. Minha opinião é que a reforma completa não será votada neste ano, mas em 2019, com todos os ingredientes”.
Segundo o parlamentar, isto pode ser um novo espaço de negociação com os sindicatos, embora continue acreditando que a reforma como está não passa. “É minha opinião, mas negociação é sempre válida”, diz admitindo que o presidente da República poderá considerar fatos novos que, de alguma forma, contribuam para a solução do problema.