Como disse Helena Chagas, prevaleceu no Senado o “Efeito Orloff”. A sensação de que Aécio hoje é qualquer senador amanhã. Para manter as prerrogativas do foro privilegiado levado aos exageros de proteção que existem por aqui, a expressiva maioria dos senadores reviu a decisão tomada pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Aécio retoma seu mandato no Senado. E pode voltar a sair de noite. A segunda decisão bem pode garantir-lhe o retorno integral à sua fama de boêmio. Mas a primeira não vai lhe garantir o retorno do prestígio que um dia Aécio teve como senador e como político.
A realidade tem revelado um dado curioso sobre o efeito das denúncias da Lava-Jato e afins sobre os tucanos, Aécio Neves à frente deles. Se eles não têm sido atingidos diretamente pelos processos, não têm sido condenados, não frequentam as prisões, como muitas vezes reclamam os petistas, impressiona o efeito eleitoral sobre o PSDB que têm tido tais denúncias. Pelo menos é o que vêm demonstrando as pesquisas. Se os eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva não se abalam com a chuva de coisas que Ministério Público e companhia limitada apontam contra ele, o caso tucano tem sido bem diferente.
Aécio Neves por muito pouco não venceu as últimas eleições contra Dilma Rousseff. Na maior parte do tempo da apuração, ele permaneceu na frente e só foi ultrapassado nos últimos momentos. Dilma venceu com o apoio de pouco mais da metade do país, com a outra metade totalmente contra ela. Iniciou-se aí o drama que fez com que ela não conseguisse no segundo mandato um dia sequer de governabilidade. Agora, Aécio é carta totalmente fora do baralho para as eleições do ano que vem.
Seu comando dentro do PSDB está também questionado. E é bem provável que ele não o retome. E, se retomar, certamente não será seguido por todos. A divisão do PSDB é explícita. A rachadura não vai se reconstituir tão cedo. Como consequência, a cunha mineira que Aécio colocara no poder tucano também não mais existe. O centro de poder do PSDB volta a ser paulista, hoje dividido entre a turma de Geraldo Alckmin e a de João Dória, com prevalência para a turma de Alckmin.
Senador, não se pode dizer que Aécio um dia tenha sido um de destaque. Sempre impressionou que sua atuação parlamentar fosse um tanto quanto apagada. Sem muita presença em plenário. Sem muitos discursos memoráveis. Sem projetos de grande lembrança. Não deverá ser agora em seu retorno depois dessa avalanche sobre a sua cabeça que isso irá mudar.
Antes de Aécio, também já tinha se tornado carta fora do baralho tucano o outro nome que o partido destacou para os embates contra os petistas nas últimas eleições, José Serra. E, na disputa entre Alckmin e Dória, nenhum dos dois parece, pelo menos hoje, iluminar os desejos do eleitorado. Disputam ali um meião em torno de 10% cada um, atrás de Lula, Jair Bolsonaro, Marina Silva…
Se for verdade que a Justiça e as forças policiais preservam o PSDB, como alguns apontam, parece verdade também então que o PSDB muito pouco consegue tirar proveito dessa vantagem…