Lá nos idos da Bossa Nova, Tom Jobim e Newton Mendonça já diziam que insistir “em sustentar opinião e discutir por discutir só pra ganhar a discussão” não era tática inteligente. Os dois falavam das coisas do coração, considerando que tal postura não agregava, só gerava solidão e separação. Certamente, o mesmo vale na política. Insistir “em sustentar opinião e discutir por discutir só pra ganhar a discussão” em nada ajuda o debate democrático. Não será no clima de torcida organizada que se instalou no FlaXFlu político brasileiro que será encontrada a saída pro tremendo embrulho em que nos meteram.
A guerra de torcidas já provocou brigas na rua. Provocou até mortes. Choques diversos.
Desfez amizades. Segue especialmente nas redes sociais na agressividade pseudointeligente de boa parte dos comentários. Enquanto isso, os times políticos merecedores de tais torcidas enlamearam-se juntos nos enredos contados pela Operação Lava-Jato e suas correlatas. Estão unidos na lista do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin. Misturam-se nas confissões recheadas de sorrisos (rindo de quê estarão esses senhores? Das nossas caras?) de Emílio Odebrecht e dos demais funcionários da sua empreiteira. Enquanto isso, vamos afundando juntos no atoleiro. Do que vem adiantando “discutir por discutir só pra ganhar a discussão”?
Os Divergentes surgem nesse cenário com outra proposta. Vêm nos dizer que a chave da divergência deve ser a eterna tolerância. Quando surgiram, as redes sociais foram por muitos saudadas como uma impressionante ferramenta de debate que poderia revolucionar as relações entre as pessoas. De repente, estávamos diante de uma imensa, planetária, ágora, como os gregos chamavam as praças nas quais seus cidadãos exerciam a democracia direta. Na ágora virtual, poderíamos discutir nossos problemas e encontrar as soluções para eles. Alguns chegaram a decretar que esse modelo acabaria por extinguir os Congressos e a democracia representativa.
Infelizmente, tudo isso ainda parece bem longe de se confirmar. As redes sociais e seus algoritmos na verdade muitas vezes em vez de aproximar parecem afastar as pessoas. As fórmulas de Facebook e afins calculam o que avaliam que queremos ler e ver e com quais pessoas preferimos nos relacionar. Vão, assim, limitando o espaço somente àquilo que nos é familiar. Acabam por dar uma falsa impressão de que o mundo inteiro é assim. Se, por descuido, surge algo ou alguém que destoa dessa visão, nossa reação é reagir violentamente a essa invasão. Começa aí a agressão, a guerrilha virtual.
Bem senhores, com o perdão de mister Zuckerberg e seus colegas, assim não será com Os Divergentes. Durante este ano em que habita a internet, o site veio com a convicção de que esse clima de disputa de torcidas em nada ajuda a promover o debate de que o país necessita para encontrar um rumo. Numa democracia, é preciso que existam opiniões e visões de mundo divergentes. É preciso que se saiba que é do debate entre essas visões, na busca de um consenso, que as soluções são encontradas. Que somente os países que souberam optar pela construção desse diálogo democrático e respeitoso foram capazes de encontrar respostas sólidas e permanentes para os seus problemas. Que todos aqueles que optaram pela imposição pela força só obtiveram retrocessos e instabilidades. Como nós mesmos. O quanto perdemos por não termos sido capazes de sustentar sempre um regime democrático nestes nossos mais de cem anos de República?
Integrante mais recente da trupe de Os Divergentes, muito me orgulha fazer parte de um grupo que respeita e aplaude as diversas avaliações e visões diferentes. Um grupo que teve a coragem de levar a necessidade de diferença de opiniões para seu próprio nome. Um grupo que sabe que, para convergir, é preciso, democraticamente, com respeito e tolerância, divergir primeiro. Feliz aniversário!