Após sugerir o impeachment do ministro Marco Aurélio, Gilmar Mendes fez sua nova vítima. Disse à Folha que Luiz Fux deveria fechar o Congresso e dar a chave à Lava Jato após o ministro conceder liminar anulando a aprovação das desfiguradas medidas anticorrupção na Câmara. Gilmar, sempre polêmico, tem um histórico longo de brigas no STF.
“Vossa excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do judiciário brasileiro”, disse em 2009 o então ministro Joaquim Barbosa após uma indireta de Gilmar Mendes, então presidente do Supremo. A discussão continuou e Barbosa polemizou: “Vossa excelência quando se dirige a mim não está falando com os seus capangas do Mato Grosso”. A sessão, por motivos óbvios, foi suspensa.
Com o ministro Ricardo Lewandowski há pelo menos três brigas mais notáveis. A mais recente foi em novembro deste ano. Após Gilmar pedir vistas de um caso em que já tinha votado, Lewandowski o acusou de tomar decisões heterodoxas. “Graças a Deus eu não sigo o exemplo de vossa excelência em matéria de heterodoxia e faço disso um ponto de honra”, disse o ministro a Gilmar, que rebateu. “Basta ver o que vossa excelência fez no Senado”, ironizou Gilmar em alusão à votação do impeachment que manteve os direitos políticos da ex-presidente Dilma Rousseff.
Se em público a situação é delicada, internamente é ainda mais difícil. As constantes declarações polêmicas do ministro Gilmar vêm gerando incômodos dentro do Supremo e no judiciário como um todo. Sem citá-lo, o ministro Teori Zavascki fez uma crítica dura na sessão de 07/12 e lembrou que a Lei Orgânica da Magistratura proíbe juízes de comentarem decisões de colegas ou processos em tramitação. “Infelizmente esse é um fenômeno que não depõe em favor do judiciário”, disse Teori.
Gilmar Mendes, sempre bom lembrar, é umas das pessoas mais poderosas da república. Além de presidir o Tribunal Superior Eleitoral, comanda a segunda turma do Supremo, responsável pelos inquéritos da Lava Jato. Por conta disso, procuradores não escondem o descontentamento com a aproximação de Gilmar com investigados. Publicamente, já houve até uma sessão de indiretas entre ele e o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, em razão das medidas anticorrupção e do vazamento de delações premiadas. Indiretas, inclusive, são o forte de Gilmar. Quem será a próxima vítima?
João Gabriel Alvarenga é colaborador de Os Divergentes