Politicamente, pode-se dizer que Lula ganhou o terceiro turno. O saldo das eleições para o comando do Senado e da Câmara, com Rodrigo Pacheco e Arthur Lira é muito positivo para o Planalto, que pode agora começar a negociar sua pauta no Legislativo. Diante das circunstâncias de um Congresso conservador, eram seus candidatos preferidos. Mas os números dessas vitórias deixam alertas importantes para o governo nas duas Casas — numa, pela falta de mais votos; noutra, pelo excesso. A vida não está ganha para os articuladores governistas.
Pacheco pode ter tido, sim, uma vitória confortável no Senado (49 x 32), mas teve bem menos votos do que os 57 que recebeu há dois anos. E seu adversário, o bolsonarista Rogério Marinho, não foi tão mal: superou por cinco votos o marco dos 27 senadores, mais de um terço da Casa. Esse é uma espécie de número mágico, suficiente, por exemplo, para instalar CPIs e fazer outras manobras regimentais. Não há sinais de que os 32 eleitores de Marinho, ou sequer a maioria deles, vá apoiar propostas extremistas do campo da direita como, por exemplo, o impeachment de ministros do STF. Mas o bolsonarismo tem ali uma bancada com potencial para fazer barulho e atrapalhar.
Não foi a vitória fácil no Senado que se previa há semanas, e o Planalto foi decisivo. Nas últimas horas, diante de ameaças de aliados insatisfeitos de votar no adversário de Pacheco, o ministro Alexandre Padilha e outros interlocutores governistas atuaram fortemente, sobretudo junto a senadores do União, como Professora Dorinha (TO), Efraim Filho (PB) e Rodrigo Cunha (AL), que reclamavam estar tendo pouco espaço no governo e na Casa.
Apesar do voto ser secreto, tudo se sabe no Senado Federal. Outros parlamentares afirmam que esses insatisfeitos, uma vez contemplados, acabaram votando em Pacheco. A necessidade de intervenção direta do Planalto, porém, apontou o grande perdedor desta quarta: o senador Davi Alcolumbre (União-AP), que indicou os três ministros do partido a Lula e, agora, precisou de muita ajuda para entregar o que prometera.
Por isso, os dias seguintes à eleição no Congresso podem trazer, a possibilidade de mudanças nos nomes do União no Ministério — Valdez Goes (Integração), Daniela Ribeiro (Turismo) e Juscelino Filho (Comunicações). No mínimo, muita pressão para isso, que já vem sendo feita por deputados do União, não por acaso liderados pelos presidente reeleito da Câmara, Arthur Lira.
E aí chega-se ao sujeito que, mesmo perdendo o orçamento secreto, volta a ser o mais poderoso do Congresso. Sem adversários, Lira — o principal líder do Centrão — foi reeleito com o recorde de 464 votos, e sai forte demais. Não tem mais o orçamento secreto, mas a quase unanimidade na reeleição lhe dá amplo controle da Casa. Com um discurso voltado para dentro, exibindo a força que lhe foi dada pelos deputados, fez poucos acenos ao governo.
Segundo aliados, vai apresentar em breve a fatura — que passa por um ministério para chamar de seu. Coisa que não conseguiu quando teve a indicação do deputado Elmar Nascimento (União-BA) vetada pelo PT.