Com Lira e Pacheco, Centrão se cacifa pra aumentar preço do apoio a Lula

A partir de agora, o jogo é para valer. No balcão parlamentar, votos passam a ser negociados em troca de cargos e verbas.

Até agora Lula surfou na onda anti-bolsonarista, principalmente depois da frustrada tentativa de golpe no 8 de janeiro que o deixou fortalecido pela rejeição da sociedade aos atos de vandalismo praticados contra as sedes dos três Poderes em Brasília. A partir desta quinta-feira (2), no entanto, o mundo real da política começa a mostrar a sua verdadeira face. O Centrão e sua conhecida voracidade por cargos e recursos do orçamento público é o grande vencedor até agora. Vai continuar dando as cartas no Congresso, como tem feito há anos.

Presidente reeleito, deputado Arthur Lira (PP – AL) – Foto Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Assim, as pautas do governo terão que, necessariamente, passar pelas mãos dos líderes do Centrão, em especial pelo todo-poderoso presidente da Câmara, Arthur Lira. Reeleito para mais dois anos à frente da Casa na quarta-feira, com uma votação histórica, provou que o Orçamento Secreto era apenas uma das pontas de sustentação do seu poder junto aos pares.

Lira sabe jogar como poucos o pôquer da política. Foi o fiador de Bolsonaro no momento mais frágil do seu governo. Assegurou-lhe a governabilidade em troca apenas da “simples criação” do famigerado Orçamento Secreto. Seguiu de braços dados com o ex-presidente até o aeroporto e de lá foi direto ao encontro de Lula para prestar apoio ao novo governo sem sequer corar.

Rodrigo Pacheco e Davi Alcolumbre – Foto Edilson Rodrigues/Agência Senado

Pacheco já não sai tão fortalecido quanto o colega Lira, em parte graças ao aliado Davi Alcolumbre, que tem se tornado um estorvo e pode render uma boa disputa pela presidência da Comissão de Justiça do Senado. Mas isso é tema de um outro artigo. De qualquer forma, assim como Lira, o presidente do Senado foi, durante os últimos dois anos, aliado de Bolsonaro. Fez o que pode para impedir a instalação da CPI da Covid até ser obrigado por decisão do STF. Com a mudança de governo, não hesitou em trocar de lado.

Senador Chico Rodrigues era vice-líder do governo Jair Bolsonaro na Casa – Foto Twitter/Reprodução/JC

É com essa turma que Lula terá que negociar. E o governo, também, terá que colocar no papel, de forma clara, os seus projetos para os próximos quatro anos. Coisa que ainda não fez ainda.

É bem verdade que no começo todo governo vive em paz com o Congresso e com a sociedade. Os parlamentares correm para apoiar o novo presidente, assim como o rio corre para o mar. Tanto assim que até agora oito senadores aproveitaram a janela partidária para trocar de legenda e ingressar na base de apoio ao governo Lula, entre eles o senador Chico Rodrigo – aquele flagrado com dinheiro na cueca-, ex-vice-líder do governo Bolsonaro.

Ainda é muito cedo para dizer que Bolsonaro morreu ou que o governo não terá uma oposição ferrenha. As cartas estão sendo distribuídas agora e o jogo tá só começando.

Ganha quem souber jogar ou blefar melhor.

Deixe seu comentário