A cada pesquisa eleitoral divulgada na reta final da campanha aumenta a ansiedade entre petistas e o nervosismo nas hostes bolsonaristas. Nesse sábado (29), todas elas convergiam, com diferença maior ou mais apertada, para uma vitória de Lula. Seis dias após o aliado Roberto Jefferson atacar policiais federais, que cumpriam ordem judicial, com três granadas e 50 tiros de fuzil, outro espetáculo bizarro foi protoganizado pela bolsonarista de carteirinha Carla Zambelli nas ruas de São Paulo.
Depois de ouvir um injustificável xingamento de Luan Araújo na porta de um restaurante nos Jardins, bairro nobre da capital paulista, ela e pelo menos um de seus seguranças sacaram armas e partiram para uma perseguição ao autor da agressão verbal num verdadeiro faroeste caboclo. Em vez de chamar a polícia, Zambelli atravessou rua com arma na mão, confessa que deu um tiro pra cima, invadiu uma lanchonete pondo frequentadores pra correr e ameaçou Luan, com uma arma apontada para sua cara, tomando tapas de seguranças da parlamentar, e exigindo um pedido de desculpa.
Além do absurdo da cena, causou um alvoroço na hora do almoço na movimentada Alameda Lorena.
O alvo foi um homem negro, identificado como um jornalista de 32 anos. A reação tão desproporcional, fosse com quem fosse, é um despropósito em todos os sentidos. Carla Zambelli, deputada federal reeleita, estava desobedecendo à proibição do Tribunal Superior Eleitoral para que pessoas, sem serem policiais, militares, seguranças ou com funções equivalentes, saiam armadas nas ruas às vésperas das eleições. “Não respeito decisão ilegal do TSE”, justificou, na maior cara de pau.
Se queria com toda essa agitação agradar ao chefe Jair Bolsonaro, deu ruim. Sua versão que tinha sido agredida por um grupo de lulistas, com frases como “eles usaram um negro para vir em cima de mim”, foi desmentida em tempo real por pessoas que estavam na rua e gravaram as cenas em sequência. A mentira teve perna curta. A área mais profissional da campanha de Bolsonaro avaliou como um tiro no pé por dois motivos: primeiro, alimentou nas redes sociais um novo ataque da campanha de Lula; segundo, tirou de foco a fake news em que apostava a campanha bolsonarista para tentar imputar a Lula a intenção de acabar com o MEI, o registro para microempreendedores individuais, usado por cerca de 10 milhões de pessoas.
Nas redes sociais, muitos bolsonaristas também criticaram deputada por dar armas aos adversários às vésperas das eleições, mas o clã Bolsonaro, alinhado ideologicamente com Carla Zembelli, saiu em sua defesa. “Quero ver quem vai defender agressão de mulher agora. Muitas máscaras cairão. Fica firme, Carla Zambelli”, escreveu o senador Flávio Bolsonaro. “Nenhuma mulher merece ser agredida, quanto mais por suas opiniões. Todo apoio a Carla Zambelli”, endossou Eduardo Bolsonaro. Com a divisão entre os apoiadores, até a madrugada Jair Bolsonaro não havia se manifestado.
O TSE e outras instâncias judiciais já estão recebendo pedidos de punição de Zambelli. O TSE acionou seu setor de inteligência para apurar uma eventual tentativa da deputada de tumultuar o processo eleitoral.
A conferir.