Muitos operadores do mercado financeiro receberam bem a decisão do Comitê de Politica Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de elevar para 13,75% as taxas de juros e deixar em aberto novo aumento das taxas em setembro. A intensidade do novo aumento da Selic em setembro, às vésperas das eleições, estaria condicionada a aperto monetário nos Estados Unidos e nos países europeus. O Copom pode também encerrar o ciclo de aumentos na sua próxima reunião, o que seria um presente ao candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro poucos antes das eleições de outubro.
Apesar dos juros básicos atuais ou superiores aos 14% ao ano (a depender da próxima reunão), a meta de inflação de 2022 e 2023 – é certo – não será cumprida pelo Banco Central. Quem sabe em 2024 a inflação fique dentro da meta.
Na realidade, os instrumentos monetários do BC, sendo os juros o principal deles, se mostram pouco eficazes diante do impacto econômico da pandemia de 2020 e da crise da invasão da Ucrânia pela Rússia. De um lado, houve interrupção das cadeias produtivas e especulações com preços das commodities. De outro, os governos do mundo afora injetaram dinheiro na economia e em programas de socorro às populações mais pobres e que perderam emprego. A injeção de liquidez de dinheiro contribuiu também para aumentos generalizados de preços.
Aqui no Brasil, a politica monetária do BC, comandada por Roberto Campos Neto, de elevar as taxas básicas de juros de 2% ao ano para os atuais 13,75%, teve baixa eficácia. A inflação está em patamares muito elevados e de forma generalizada em todos os segmentos da economia.
Mão amiga do FED
Os sinais de que os preços das commodities – como combustível, trigo, soja, milho, entre outros – podem recuar a seus patamares históricos no Brasil só apareceram com a decisão firma do FED, o Banco Central dos Estados Unidos, de elevar seus juros para reduzir a inflação anual norte-americano que atingiu históricos 8,5%. É isto, leitor, a política monetária do FED americano, onde os juros estão em 2,75% ao ano, pode contribuir de forma decisiva para segurar os preços das commodities. Isto ocorrendo, a ajuda será de grande valia para a luta do Copom contra a inflação em solo brasileiro.
O quanto será a intensidade desta ajuda ainda é incerto. A decisão do Copom de deixar em aberta novo aumento da Taxa Selic é vista pelo mercado financeiro como bom sinal. Fica explícito que o BC do Brasil está a reboque das decisões do FED, apesar de que o ciclo dos aumentos dos juros nos Estados Unidos está começando agora, enquanto no Brasil deveria ter sido encerrado muito antes das eleições.
A insegurança da autoridade monetária tem sua justificativa. Com a gastança de recursos públicos nas vésperas das eleições por aqui, em especial com a injeção de R$ 41 bilhões com o Auxílio Brasil, haverá um impacto expansionista da moeda. Não há taxa de juros que segure o consumo de pessoas que passam fome. O dinheiro vai acabar nas mãos de comerciantes e empresários trazendo algum impacto de expansão da economia, mais conhecido como voo de galinha.
Fogo amigo da Economia
Embora o BC tenha alguma autonomia, na prática se esforçou muito para ajudar a corrigir os erros da política econômica do Ministro Paulo Guedes, chefe da Economia sob Bolsonaro, com suas decisões de lamentáveis resultados no enfrentamento da inflação. Mesmo nas coisas inéditas que fez, não conseguiu dar uma bandeira ao governo Bolsonaro, que chegou a praticar as menores taxas de juros da história do Brasil.
Os poupadores e rentistas tiveram remuneração negativa de seus recursos com juros de 2%, e a economia não cresceu mesmo antes da pandemia. Os extremos das taxas de juros praticadas por Roberto Campos Neto em pouco contribuíram para o crescimento da economia e controle dos preços. Mesmo com a tungada nos investidores de poupança e outras aplicações financeiras, a dívida pública federal explodiu. Não só pelos gastos da União no combate à Covid-19. Com as atuais taxas de juros, os custos de rolagem da dívida pública será um grande peso nas costas do Tesouro Nacional nos próximos anos – custo já contratado pelo próximo presidente da República.