Radicalização ou Torre de Babel

Diante da confusão de propostas, ou a falta delas, e da politicalha partidária, qual o desfecho popular das eleições brasilianas programadas para outubro de 2022?

Em 16 de março último, aqui mesmo n’Os Divergentes, pelo título O GRANDE TOMBO, eu já dizia que “o calendário eleitoral está em desenvolvimento e já vemos pretendentes a candidatos quebrando a cara com as próprias asneiras que cometeram ou andaram dizendo. O mesmo acontecerá com outros boquirrotos e deslumbrados como ‘mamãe falei demais’ ou populistas fanatizados por vieses ideológicos, os quais, sem propostas e coerência partidária, como está acontecendo nesta janela dos vira-casacas, servem-se do esdrúxulo sistema partidário do toma lá dá cá, para sustentarem o fisiologismo deste presidencialismo de coalizão”.

Geraldo Alckmin e o ex-presidente Lula Foto: Ricardo Stuckert

Às vésperas do prazo final de registro de candidaturas, as sonhadas propostas e programas dos partidos ainda não apareceram, mas situações inusitadas, como essa do Alckmin virar vice do Lula, começaram a proliferar nas redes sociais uma infinidade de vídeos do passado beligerante entre ambos, quando um xingava o outro e até acusações do cometimento de crimes, corrupção e falsidades.

Do Bolsonaro vimos a proeza e façanha de conseguir até o apoio da ferrenha oposição, que lhe atormenta a vida no parlamento tentando seu impeachment, para aprovar a emenda kamikaze (mais uma) o atual “auxilio Brasil” (ou esmola eleitoral?)

O encontro do presidente Jair Bolsonaro com chefes de missões diplomáticas estrangeiras, em Brasília – Foto: Clauber Cleber Caetano / PR

Mas incrivelmente o “mito” deixa de explorar a realidade da baixa do combustível, um senhor trunfo eleitoral, para gratuitamente provocar o Judiciário frente a embaixadores da possível fraude eleitoral da urna eletrônica.

Enquanto isso, o Ciro Gomes desce borduna nos dois líderes das pesquisas mostrando as mazelas, incoerências, a corrupção e as mentiras dos dois que buscam a reeleição. Mas também ele, já na quarta tentativa de chegar à presidência, ainda não tem um programa de governo e de estado para apresentar a esta nação.

É a Torre de Babel da politicalha que continua.

Como a Queda da Bastilha em que o rei Luiz XVI não imaginava pudesse acontecer e o levar para a guilhotina, mesmo que o bárbaro instrumento não mais exista, mas não é uma hipótese descartada numa execução eleitoral (claro que em sentido figurado com uma derrota acachapante) não venha ocorrer nesta divisão fratricida em que nossos políticos se engalfinham feitos galos de rinha, sangrando no ringue da barbárie

renovaçaoeli.com

Quando um juiz proíbe o uso da bandeira nacional em manifestações públicas; quando se tenta responsabilizar o Presidente da República por um crime de assassinato por ódio político – entre duas pessoas fanáticas e desiquilibradas – como ocorreu em Foz do Iguaçu;  quando o Judiciário determina a retirada das redes sociais de fatos e versões do mais brutal sequestro e assassinato  do prefeito Celso Daniel, mas deixa continuar a venda o conhecido livro “ASSASINATO DE REPUTAÇÕES, do Delegado Tuma Jr;  quando qualquer futrica partidária é levada à Suprema Corte e, esta, inopinadamente, derruba decisões das instâncias primárias e secundárias depois de anos de tramitação em que dezenas de magistrados atuaram, é de se questionar se realmente não estamos envolvidos numa torre de babel?

Carlos Ayres Britto – Foto: Orlando Brito

Nunca a velocidade e rapidez do STF se viu como neste calendário eleitoral, mas fico a me indagar porque esta Ação Direta de Inconstitucionalidade contra o auxílio moradia e outras benesses do Judiciário, que já tem o voto do relator ex-ministro Ayres Brito, e desde 17/05/2012, com um pedido de vistas de mais de 10 anos com o Min. Fux não entra em pauta?  Como diria o Boris Casoy, isto é uma… Confira-se no site do STF.

ADI 4393
PROCESSO ELETRÔNICO PÚBLICO
NÚMERO ÚNICO: 0001548-25.2010.1.00.0000
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
Origem: RJ – RIO DE JANEIRO
Relator: MIN. AYRES BRITTO
REQTE.(S)
PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S)
GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
INTDO.(A/S)
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
INTDO.(A/S)
ASSOCIAÇÃO DOS MAGISTRADOS BRASILEIROS – AMB

Realmente vivemos tempos atípicos e inusitados a testar a resistência dos governados. Esta ditadura da politicalha partidária com suas caixas pretas dos bilhões dos fundos partidários e eleitorais, dos orçamentos secretos sustentados pelos escorchantes impostos que pagamos, da impunidade ao crime organizado ou deste estúpido e xenófobo radicalismo que ameaça implodir a nossa incipiente fortaleza democrática, pelo desentendimento dos ditos poderes, não estaríamos na errática construção da Torre de Babel?

Como testemunha e eleitor nas últimas dez eleições diretas para presidente (Jânio em 62, Collor, FHC 2 vezes, Lula 2 vezes, Dilma 2 vezes, agora Bolsonaro também candidato a reeleição) e sempre um constante opositor às eleições indiretas do Regime Militar, me negando a participar delas inclusive na eleição do Tancredo Neves.

Ney Braga foi governador do Paraná

Não pra me autoelogiar, mas tive a ousadia em 1979 na última eleição indireta para governador do Paraná, que elegeu Ney Braga, fui na condição de Líder do MDB, escorado pelo Regimento Interno da Assembleia Legislativa realizada no Colégio Estadual do Paraná, lotado com mais de mil arenistas, único peemedebista a dizer alto e bom som, não para votar, mas lançar o protesto aos participantes que tiveram que ouvir lhes dizer que “estavam usurpando o legítimo poder do povo eleger seus governantes”. Ao descer da tribuna para abandonar o recinto, entendi o significado da expressão “CORREDOR POLONêS”, pelas vaias e impropérios ensurdecedores que a plateia me brindava.

A atual Constituição, de 1988, é a sétima na história do Brasil

Por tudo isto que passei e vivi e me fez afastar das disputas eleitorais, ainda continuo um visionário defensor de uma CONSTITUINTE EXCLUSIVA, e, nestas eleições, não descarto que um insight de clarividência ou esgotamento da paciência popular, assim como o Povo Francês derrubou a bastilha, nosso povo pelo seu soberano poder do voto repita “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão” (Mateus 23:27) e aconteça o grande tombo dos que hoje se acham invencíveis.

Quem viver verá.

– Nilso Romeu Sguarezi é advogado. Foi deputado federal constituinte de 1988. É defensor da PEC de iniciativa popular para escrevermos uma nova Constituição através de uma Constituinte Exclusiva 

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