O grande tombo

À medida que as eleições gerais de outubro se aproximam, os candidatos serão desnudados pelos eleitores. Corrupção, fisiologismo, enganação, desonestidade, mentira deverão ser punidos pelos eleitores. Pelo menos é o que se espera

O calendário eleitoral está em desenvolvimento e já vemos pretendentes a candidatos quebrando a cara com as próprias asneiras que cometeram ou andaram dizendo. O mesmo acontecerá com outros boquirrotos e deslumbrados como “mamãe falei demais” ou populistas fanatizados por vieses ideológicos, os quais sem propostas e coerência partidária, como está acontecendo nesta janela dos vira-casacas, servem-se do esdrúxulo sistema partidário do toma lá dá cá, para sustentarem o fisiologismo deste presidencialismo de coalizão.

Em eleição de dois turnos, muitas vezes, o azarão da largada, pela incapacidade dos seus concorrentes, consegue chegar ao segundo turno. Daí é um contra o outro, tempo em que as atenções dos eleitores ficam sensíveis e atentas para se convencerem do sim ou não. O filosofo Jean-Marie Guyau, que Nietzsche nominou o “Filosófo da Vida” na sua CRÍTICA DA IDEIA DE SANÇÃO, 1ª Edição traduzida pela Martins Editora Livraria Ltda 2017, ensinou:

“O homem é como essas crianças que não gostam das histórias em que os bons meninos são comidos pelos lobos e gostariam, ao contrário, de ver os lobos sendo comidos. Mesmo no teatro, geralmente se exige que a virtude seja recompensada, e o vício, punido, e, se não o são, o expectador volta para casa descontente, com a sensação de uma expectativa frustrada. Por que esse sentimento tenaz, essa necessidade persistente de uma sanção no ser sociável, essa impossibilidade psicológica de suportar a ideia do mal impune?”

Explicou o filosofo da vida:

“Em primeiro lugar porque o homem é um ser essencialmente prático e ativo, que tende a tirar de tudo o que vê uma regra de ação, e para quem a vida alheia é uma perpétua
moral em forma de exemplos. Com o maravilhoso instinto social que o homem possui, ele logo sente que um crime impune é um elemento de destruição social, ele tem o pressentimento de um perigo: tal como um cidadão que, fechado em uma cidade sitiada, descobre uma brecha aberta.”

“Em segundo lugar, o mau exemplo é como uma espécie de exortação pessoal ao mal murmurada em seu ouvido e contra a qual seus instintos mais elevados se revoltam. Tudo isso resulta no fato de que o bom senso popular faz sempre a sanção entrar na própria fórmula da lei e encare a recompensa ou o castigo como motores. A lei humana tem a dupla característica de ser utilitária e necessária: o que é exatamente o oposto de uma lei moral, que comanda uma vontade livre.”

Nas campanhas eleitorais os candidatos notoriamente mentirosos aparecem com outras roupagens e fantasias tentando passar a ideia de verdade nas suas falsas falas. Mas a maioria dos ouvintes-eleitores se baseiam no amplo círculo da moral e muito pouco no restrito círculo do direito, até porque vivemos tempos em que, como disse Benjamin
Disraeli: “Quando os homens são puros, as leis são desnecessárias; quando são corruptos, as leis são inúteis”.

Que o tombo virá isso é certo. Não nos esqueçamos que na última eleição presidencial de 2018 ninguém nem mesmo os famosos institutos de pesquisas eleitorais devidamente registradas na Justiça conseguiram acertar, que dirá agora nesta atualidade em que a Lei do Talmud pode ser repetida: “Infeliz a geração cujos juízes merecem ser julgados.” Por isso os mentirosos evitam ao máximo falar das situações em que possam ser flagrados em seu costumeiro blá-blá.

Filosofia à parte, num imenso território como o nosso, como um povo de culturas tão diversas e níveis sociais tão desiguais, o bom senso popular cobra do candidato que não seja intolerante, irascível ou deslumbrado por si mesmo, além é claro de ser ficha limpa e bom caráter onde mais vale o exemplo do que a palavra.

“As mentiras sempre foram consideradas instrumentos necessários e legítimos, não somente do ofício do político ou do demagogo, mas também do estadista.” (Hannah Arendt (1906-1975) / https://youtu.be/M5bOtqmvJHE

Ainda em 1982, Mario Barros Junior, que por sua conta e risco editou o polêmico “A FANTÁSTICA CORRUPÇÃO NO BRASIL“, já alertava o que hoje o noticiário da guerra Rússia X Ucrânia escancara que “a política burocrática da Rússia, impedindo a ação da livre imprensa, dificulta o conhecimento da vida naquela nação e pouca gente sabe da existência de comerciantes, industriais e milionários na vida socialista dos países da Cortina de Ferro”, portanto, há 40 anos já se sabia da grande verdade que “o homem ideal, preconizado pelo grande líder da revolução bolchevista, Lenin, deveria possuir relevantes qualidades morais” para que “somente assim os males causados pela sociedade capitalista seriam extirpados”. Porém, o que aconteceu é que “os mandatários, os membros do Partido, os elementos de confiança do burocrático igualam-se nos requintes aos dirigentes de outros países. Todos possuem casas de campo, barcos, carros, aparelhos sofisticados, vivem como nababos, ou como príncipes árabes do petróleo.” (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/03/veja-iates-de-oligarcas-da-russia-que- entraram-na-mira-das-sancoes-do-ocidente.shtml).

Mais uma vez a imbecilidade da guerra, agora entre Rússia e Ucrânia, escancaram à humanidade que em qualquer ideologia existem os corruptos e corruptores, desonestos e ladravazes da fé pública, além dos demagogos, populistas e mentirosos que costumam se esconder atrás dos partidos, facções, seitas ou religiões, como o próprio Cristo disse em sua pregação: “Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros caiados: por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos, de cadáveres e de toda espécie de podridão” (Mateus 23:27).

Setembro comemoramos 200 de independência, mas em dezembro, para o bem da pátria, um levará um homérico tombo pela vontade soberana do povo que em síntese dirá: “Na boca do mentiroso, o certo é duvidoso”.

* Nilso Romeu Sguarezi é advogado. Foi deputado federal constituinte de 1988 

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