Barrar Lava Jato é fato ou pretexto na demissão de Fábio Medina Osório?

Advogado-Geral da União do governo Temer, Fábio Medina Osório.

Mesmo sem ser ministro, por sua relação com Michel Temer, Moreira Franco é um dos políticos mais poderosos no Palácio do Planalto. Na quarta-feira (6), ele jantava com o deputado Heráclito Fortes e alguns jornalistas quando alguém se aproximou e por prolongados minutos falou em seu ouvido. Era o colega de governo Fábio Medina Osório. Ele assuntava se os boatos que circulavam pela cidade sobre a sua demissão da Advocacia-Geral da União eram verdadeiros.

Político experiente, Moreira ouviu e respondeu com evasivas. Sem revelar o conteúdo da conversa, contou a seus parceiros de mesa quem era seu interlocutor.

Um dia depois, Fábio Osório manteve uma conversa mais indigesta. Foi informado pelo ministro Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil de Temer, que estava demitido. Na sexta-feira (8) saiu do governo atirando. Disse que foi vítima dos que querem abafar a Operação Lava Jato. Com essa narrativa, ele conseguiu o apoio dos movimentos que convocaram as manifestações pró-impeachment e manchetes.

Por mais que a avaliação no Planalto seja de que Fábio Osório vende um enredo que não se sustenta em pé, ele está sendo ouvido. E o estrago é grande.

Os precedentes registrados nas gravações do ex-senador Sérgio Machado dão credibilidade à versão do Osório, mesmo que seja muita pretensão imaginar que conter a AGU tenha algum efeito paralisante na Lava Jato. Quem dá as cartas lá são os procuradores da República, a Polícia Federal e a Justiça. E quem os respaldam contra todas as manobras para esvaziar as investigações é o maciço apoio da população.

Fábio Osório ganha audiência também por mais um erro tático do Planalto. Pelas mãos de Padilha, ele chegou à chefia da AGU. Sua escolha foi apresentada pelo governo Temer como um indicativo de seu compromisso com o combate à corrupção.

Na versão palaciana, ele estreou mal. Bancou uma alternativa jurídica para a mudança no comando da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) que deu errado. Dizem que por sua omissão. Ele nega. O namoro poderia ter terminado ali.

Padilha chamou Osório para um acerto de contas, e ouviu que um chefe da AGU só deveria despachar com o presidente da República. Em outra falha, o Planalto antecipou à imprensa que Osório seria demitido. Deu-lhe tempo para se articular com representantes da Polícia Federal e do Ministério Público com o mesmo argumento de que estava sendo demitido pelos que querem barrar a Operação Lava Jato.

Em gestão interina, os inquilinos do Planalto recuaram. Apenas adiaram o problema. Que o núcleo central do agora efetivo governo Michel Temer não consegue disfarçar o receio do que a Lava Jato pode causar a sua base política é evidente. Mas eles sabem que torcida é uma coisa e obstrução à Justiça é outra. Exemplos recentes, mal-sucedidos, são bons conselheiros.

 

 

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