Os indicadores de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do último trimestre (jan-mar) e os recordes da bolsa de valores apontam que está havendo um acúmulo de riqueza para alguns no Brasil.
O desalinhamento de preços, desemprego em massa e baixo consumo das famílias, além da inflação em alta, demonstram uma anomalia nos fundamentos da economia e receio que este crescimento não se sustenta e seja mais um voo galinha.
O aumento de 1,2% do PIB nos meses de janeiro a março tem uma parte que é efeito estatístico pela comparação com uma base fraca do último trimestre de 2020 (out-dez) e os impactos efetivos do desempenho da agricultura, exportações de commodities, setor da construção civil. Devido a este desempenho muitas instituições financeiras passaram acreditar em um crescimento do PIB de 5% em 2021, coisa ainda incerta.
Caso haja uma retomada efetiva da atividade dos demais setores da economia, isto poderá ocorrer, mas, por enquanto, o que se observa é que a renda das pessoas e o consumo são indicadores ruins.
Inflação volta a incomodar
Há ainda um problema de oferta de bens para o setor industrial e de alimentos que estão com preços desalinhados e têm impactado de forma direta a inflação. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, apesar de dar por resolvida esta inflação atípica, já sinalizou que as taxas de juros serão elevadas nos próximos dias para 4,25%. O uso de juros mais elevados tem potencial baixo para resolver inflação por escassez de oferta. São mais eficazes no combate à inflação de demanda quando os brasileiros estão mais propensos a comprar mercadorias a quaisquer preços. Como o poder de compra da maioria da população está em queda pela perda de renda, esta política monetária restritiva só agrava as finanças dos potenciais consumidores.
O fato da inflação atingir 8,06% nos últimos 12 meses tem levado os bancos a estimar que o BC será obrigado a elevar para 6% as taxas de juros até o final do ano. O que se observa é que existem dados e argumentos para serem usados de acordo com o gosto do freguês.
O pessoal que opera na bolsa de valores está surfando na onda da recuperação de uma economia que recebeu muitos estímulos financeiros para enfrentar a covid-19, como se isso fosse sustentável. Os pequenos investidores em ações estão deixando a bolsa. São os estrangeiros que estão investindo pelo benefício de um real desvalorizado e que conseguem comprar as ações brasileiras na bacia das almas.
É um pessoal que vê melhoras na economia do Brasil pelo fato de um PIB maior e uma inflação maior contribuir para que a relação divida/PIB cair nas projeções de 96% este ano para 82%. Isso daria a estes investidores uma maior segurança que não levariam calote no Brasil.
A realidade para nós outros é bem diferente. Os benefícios deste crescimento do PIB ainda são muitos pequenos.
Brasil, nanico exportador
Ocupar uma cadeia nacional para dizer que a economia do Brasil vai bem, como disse o Presidente Jair Bolsonaro, é apenas propaganda. A população sabe que está sem emprego, que os preços dos alimentos estão nas alturas e o dinheiro vale pouco.
É compreensível que Bolsonaro fale destes assuntos com a convicção de crença, pois desta ciência sabemos que não sabe nada. Já o ministro da Economia, Paulo Guedes, comete um grave erro ao induzir os agentes econômico a acreditar em um cenário que pode ser bom para alguns, mas não representa a realidade de todos os segmentos produtivos. É um discurso otimista feito para o chamado mercado, de onde ele vem. Sem a reforma tributária, reforma administrativa e privatizações o setor produtivo continua carregando uma pesada mochila nas costas.
Embora o país esteja batendo recorde de exportações, estas são feitas com produtos de baixo valor agregado. Como diz o economista Edmar Bacha, o Brasil hoje representa apenas 1,1% das exportações no mercado mundial devido a perda de competitividade dos produtos industrializados que agregam valor e geram salários maiores.
O Brasil precisa de geração de riqueza e empregos de qualidade para as pessoas terem renda que garanta um consumo e crescimento sustentáveis. Assim, os problemas fiscais do governo serão resolvidos com maior arrecadação de impostos. Hoje, este recorde de exportação de commodities agrícolas beneficia muito pouco a arrecadação, uma vez que este segmento praticamente não paga imposto.