Causou enorme repercussão a postura dos jornalistas que têm participado das bancadas escaladas para “entrevistar” os pré-candidatos a presidente da República no tradicional Roda Viva, da TV Cultura, e no recém-criado Central das Eleições, da Globonews. A reação foi maior até mesmo que as próprias declarações dos candidatos, o que em si já simboliza, com perfeição, o estado teratológico em que estamos mergulhados no debate político brasileiro.
Jornalistas são, em geral, egressos da classe média. Integram aquela (ainda) muito pequena parcela da população com nível superior. Formam uma categoria profissional com históricos e notórios laços e predileções pelas teses e partidos de esquerda. Pautam suas vidas pessoais e, não raro, suas trajetórias profissionais em uma agenda de temas que raramente coincide com aqueles que afligem à esmagadora maioria da população.
Os jornalistas falam muito em saúde, segurança e educação, mas pouquíssimos foram ou são vítimas do pináculo de incompetência e gastança que é o Estado brasileiro. Vivem no seio daquela “elite” que tanto costumam amaldiçoar. Sei disso porque sou um deles, convivo com jornalistas há quase 40 anos. Há as exceções, como em tudo, mas este é um retrato geral bem nítido. Talvez isso explique (ainda que não justifique), ao lado da militância que sempre houve nas redações, a insistência com que muitos jornalistas repisam temas que passam a anos-luz do interesse geral da sociedade.
Com o Brasil acumulando 13 milhões de desempregados, crescimento pífio ou negativo nos últimos anos, déficit fiscal monstruoso, previdência à beira da insolvência (e com ela o próprio país) e uma luta aguerrida dos poderosos para se manterem onde sempre estiveram – ou seja, acima da lei –, muitos nessas bancadas de inquisidores se esmeravam em perguntas longas e pretensiosas, versando mais sobre o passado do que sobre o futuro.
Quem ansiosamente aguardava pela oportunidade de ver tais candidatos confrontados com suas próprias contradições ficou muito decepcionado. As perguntas prestaram um desserviço à democracia, na medida que privaram os eleitores da chance de ouvirem mais propostas e menos explicações, mais planos e menos retórica. Até mesmo se o esforço era para desqualificar, fracassaram vergonhosamente. Quem pouco ou nada tem a oferecer como soluções para o Brasil sempre vai preferir ficar no embate rasteiro das frases feitas ou na troca de acusações.