Milhares de pessoas na Esplanada dos Ministérios. Confusão. Bombas de gás. Fogo nos prédios dos Ministérios da Fazenda e da Agricultura. Salas depredadas. Gente ferida. Se um ingrediente faltava na crise política que se abate desde a divulgação dos detalhes da delação premiada do dono da Friboi, Joesley Batista, esse elemento chegou. As pessoas foram às ruas. E a voz das ruas não soou nada rouca na Esplanada dos Ministérios.
O protesto em Brasília soma dois problemas sérios à longa lista de problemas que hoje assola o principal gabinete do terceiro andar do Palácio do Planalto. Com baixas taxas de popularidade e dificuldade para se defender das denúncias dos irmãos Friboi, o presidente Michel Temer começa a ver contra ele protestos semelhantes aos que fustigaram a ex-presidente Dilma Rousseff antes do seu impeachment. E com alto grau de violência. Temer até poderá dizer que o protesto desta quarta-feira (24), patrocinado pelas centrais sindicais, tinha caráter mais corporativo. Mas não necessariamente isso lhe traz uma vantagem. A manifestação e sua violência demonstram imensa resistência à agenda de reformas pretendida pelo governo. Temer, assim, fica pressionado pelas manifestações e, talvez, paralisado por elas no avanço da sua agenda.
Para Temer, isso pode servir de combustível contra ele tanto para quem não deseja ver aprovadas as reformas como para aqueles que as desejam. Os grupos sindicais criam o clima de intranquilidade que pressiona, assusta e paralisa o Congresso. Criado esse ambiente, os grupos empresariais e financeiros que consideram que o país precisa fazer as reformas começam a considerar que elas não poderão sair sob o comando de Michel Temer, pela incapacidade de condução política que enfrenta, fustigado pelas denúncias. Certamente começarão a considerar que o ambiente de paz necessário não virá com Temer. Não por acaso, o pós-Temer já começa a ser cochichado nas conversas dos Salões Verde e Azul do Congresso.
A fumaça preta que sai dos Ministérios da Fazenda e da Agricultura torna, literalmente, negro o céu na Esplanada dos Ministérios…