Foi no governo José Sarney que o então deputado Roberto Cardoso Alves subverteu os versos da oração de São Francisco dando um triste e novo sentido à frase “É dando que se recebe”. De máxima da caridade pregada por São Francisco virou máxima do fisiologismo, do toma-lá-dá-cá, de um tipo de relação política que foi ficando cada vez mais descarada.
Roberto Cardoso Alves era então o líder do Centrão, um grupo de deputados conservadores e do baixo clero que se moveu numa reação conservadora a artigos que um núcleo mais à esquerda pretendia implementar na Constituinte.
Havia temas que diretamente não interessavam a Sarney. Especialmente a ideia de reduzir de seis para quatro anos o tempo do mandato presidencial. No governo militar, o mandato do presidente João Batista Figueiredo foi de seis anos, e a ideia da Constituinte era tungar dois anos do próprio mandato de Sarney.
Com a ajuda do Centrão, Sarney tratou de reagir a isso. Promoveu uma farta distribuição de benesses, principalmente concessões para emissoras de rádio, para viabilizar o “É dando que se recebe”. Obteve para si uma meia vitória na história do mandato. O seu não foi de quatro anos, mas também não foi de seis. Ficou em cinco anos. É por isso que em 1989 houve eleição somente para presidente da República, em vez das eleições casadas para deputado, senador, governador e presidente a que estamos acostumados.
Agora, em torno da difícil aprovação da reforma da Previdência, eis que se move outra vez um grupo batizado de Centrão. Novamente, é um grupo que emerge do baixo clero, das sombras de uma região obscura do plenário que os próprios deputados batizaram de “Valle de Los Caídos”. Já para o atendimento desse grupo, houve cessões conservadores como a flexibilização da fiscalização do trabalho escravo.
E, dentro da troca de benesses, o novo Centrão agora pressiona fortemente o governo por mais cargos no governo. Cobiça ministérios, principalmente diante da perspectiva de ver o PSDB fora do governo. Se prevalecer a pressão dos grupos ligados ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ao senador Tasso Jereissati (CE) contra os grupos mais próximos do governo capitaneados pelo senador Aécio Neves (MG), os tucanos deixam o governo para se desligaram de qualquer compromisso com Temer na eleição do ano que vem. E é por aí que o Centrão espera engordar a sua participação.
Temer fica, assim, bem próximo de ficar no final do seu governo tão refém do atual Centrão quanto Sarney ficou refém do antigo liderado por Roberto Cardoso Alves nos últimos dias do seu governo. E cada vez mais visível vai ficando a penugem preta abaixo do bigode de Sarney abaixo do nariz de Michel Temer…