A maior parte das explicações e declarações sobre a Operação Lava-Jato, o juiz Sergio Moro deu muito antes dela. O artigo que Moro escreveu em 2004 sobre a Operação Mãos Limpas na Itália é uma espécie de manual do usuário da Lava-Jato. Ali, fica claro que desde aquela época, Moro buscava uma Mãos Limpas para chamar de sua.
Em linhas gerais, no artigo, Moro diz considerar a Mani Pulite (ele só trata a Mãos Limpas pelo seu nome original, em italiano) um dos maiores momentos do Judiciário contemporâneo no mundo. Um momento em que a Justiça se sobrepôs para corrigir problemas da política. E considera que o Brasil, pela fragilidade e vícios das suas instituições ainda jovens e em construção (nossa democracia é ainda relativamente bem recente), e pela força obtida pelo Judiciário e pelos órgãos de controle, Ministério Público à frente, reunia condições muito parecidas para replicar o que houve na Itália. Hoje, é bom lembrar que a Itália não resolveu com as Mãos Limpas os seus problemas de corrupção. E o fim dos partidos tradicionais lá levou ao surgimento de Silvio Berlusconi, uma emenda bem pior do que o soneto.
Mas estão lá, atribuídas à Operação Mãos Limpas, muitos dos expedientes que vêm sendo usados na Lava-Jato. E um deles é o vazamento de informações. Lá na Itália, primeiro a Mãos Limpas detonou o Partido Socialista Italiano (PSI), de esquerda. Depois, demoliu seu principal adversário, o mais conservador Democrata Cristão. Qualquer semelhança não é mera coincidência…
“Para o desgosto dos líderes do PSI, que, por certo, nunca pararam de manipular a imprensa, a investigação da mani pulite vazava como uma peneira. A publicidade conferida às investigações teve o efeito salutar de alertar os investigados em potencial sobre o aumento da massa de informações nas mãos dos magistrados, favorecendo novas confissões e colaborações. Mais importante: garantiu o apoio da opinião pública às ações judiciais, impedindo que as figuras públicas investigadas obstruíssem o trabalho dos magistrados, o que, como visto, foi de fato tentado”. Quem escreveu o parágrafo acima foi Sergio Moro em 2004.
Quem quiser entender a Lava-Jato, recomenda-se o artigo de Sergio Moro sobre a Mãos Limpas.