A pesquisa divulgada nesta sexta-feira (15) pelo DataPoder360 repete o que já vêm dizendo Ibope e Datafolha. Lula segue imbatível. Vence as eleições em qualquer cenário. Derrota qualquer um no segundo turno. Parece estar cristalizando um percentual em torno de 30% no primeiro turno. No segundo turno, seja o candidato o mais radical Jair Bolsonaro ou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, um conservador mais moderado, a vitória de Lula mantém-se em percentuais semelhantes.
Lula estabeleceu para a sua campanha uma estratégia de confronto. Faz a narrativa de que é vítima de uma ação orquestrada, na qual teria sido montada contra ele uma denúncia inconsistente, cujas provas são frágeis, revestida de uma celeridade que não se repete quando os denunciados são outros, de outros partidos (essa é a narrativa, não se está aqui corroborando com ela). Assim, Lula confronta os atores dessa ação orquestrada com sua candidatura. Diz ao Judiciário, ao Ministério Público, etc, parafraseando Zagallo: “Vocês vão ter que me engolir”.
Na lógica dessa estratégia de confronto, pode até ser Bolsonaro a escolha preferida mesmo por Lula para a disputa. Se é confronto, que seu adversário seja mesmo alguém que o eleitorado enxergue de fato como a sua contraface. Ainda que, na verdade, Lula não seja alguém de extrema-esquerda assim como Bolsonaro é de extrema-direita. Mas o que importa é o sentimento. Meio como estabelecer uma luta do bem contra o mal, como já se disse por aqui: O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro.
Talvez esteja por aí o fato de virem fracassando todas as tentativas de busca de um nome mais moderado no campo conservador para a disputa. A alternativa da vez é Alckmin, que aparece nas pesquisas no patamar de 8%. Quando Lula puxa a eleição para o confronto, aglutina seus opositores do outro lado, na sua contraface.
É possível que essa lógica permaneça mesmo se Lula não vier a disputar a eleição. O cientista político e jornalista André Singer já havia assinalado num momento do segundo mandato de Lula que ele havia se deslocado do petismo. Lula já era uma corrente política em si mesmo: o lulismo. Como anotou mais cedo por aqui Apolo da Silva, Lula, como corrente política de um homem só, pode ter potencial para carrear seus votos – ou parte deles – para outro candidato. Já fez isso quando elegeu Dilma Rousseff. Como lembra Apolo, Juan Domingos Perón, outra corrente política de um homem só, fez isso na Argentina. Proibido de disputar a eleição, elegeu Héctor Campora na década de 1970.
Mas, vale sempre lembrar aos desavisados: pesquisa não é eleição. Se fosse, era mais barato realizar uma para eleger o presidente. Muito menos é eleição uma pesquisa a quase um ano da eleição. Muita água ainda vai rolar debaixo da ponte. Mas, por enquanto, vai dando certo a estratégia de confronto adotada por Lula na sua candidatura.