Não são poucos os que avaliam que a essa altura há duas Operações Lava-Jato. A movida de Curitiba pelo juiz Sergio Moro, que se concentra sobre aqueles que não têm foro privilegiado, tem o PT e seus principais atores como alvos principais. A movida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que ataca ministros e o presidente da República, hoje mais fustiga o PMDB e o atual governo. É meio natural que hoje seja assim: o PT não preside mais o país. De qualquer modo, os detalhes do depoimento do ex-ministro Antonio Palocci em Curitiba servem de forte contraponto no momento em que Janot se atrapalha com a delação de Joesley Batista.
Palocci trouxe novamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o centro dos holofotes da investigação de uma forma e contundência que ninguém no PT esperava. Chega a falar na existência de um “pacto de sangue” entre Lula e o cappo da empreiteira, Emilio Odebrecht, para garantir que os esquemas entre o governo e a empresa se mantivessem intactos no governo Dilma Rousseff. Os relatos são aterradores, vindos de alguém que pertenceu ao núcleo duro tanto do governo Lula quanto do governo Dilma, por um momento. Foi ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma. E, por enquanto, o que disse Palocci é tão somente uma isca jogada: ele ainda não fechou acordo de delação premiada.
Palocci pode, como acentuou Helena Chagas, estar dizendo somente o que avalia que os investigadores querem ouvir. Ele sabe que será Lula o principal alvo do interesse da investigação no que diz respeito ao que ele sabe e presenciou. A questão, porém, é saber se o que diz Palocci corresponde ou não à verdade. As reações petistas estão recheadas de cobrança à lealdade do ex-ministro, chamado de “canalha” e outros adjetivos ainda piores. Se o que Palocci vai contando confere, não cabe cobrar tal lealdade. Seria algo próximo à “omertá” da máfia.
Talvez, porém, fosse algo assim o que a cúpula petista esperasse de Palocci, dada a proximidade que ele teve dos núcleos de decisão do partido nos tempos em que esteve no poder. Seja qual for o grau de lealdade que se esperava. “Omertá” combina bem com a designação de “italiano” que a Odebrecht usava para tratar Palocci.
E, então, a decisão de Palocci de entregar o que sabe, especialmente de entregar Lula, lembra aquela clássica comédia com Marcelo Mastroianni, “Divórcio à Italiana”. No caso do filme dos anos 1960, o tal divórcio dá-se literalmente matando a esposa…