A entrevista que Rodrigo Janot deu ao Correio Braziliense, publicada na edição desta quarta-feira (20), a primeira depois que deixou o comando do Ministério Público, mostra de forma clara a consciência que ele tem do tamanho do vespeiro em que mexeu. Janot passa a impressão de que entende que aqueles que foram seus alvos não o perdoarão tão cedo. E que, fora do posto à frente do Ministério Público, ele provavelmente ficará mais frágil para evitar agora as retaliações.
Como procurador geral da República, Janot ajudou primeiro a detonar a cúpula do PT, especialmente após a prisão e o acordo de colaboração feito com o ex-senador Delcídio do Amaral. Depois, detonou a cúpula do PMDB, com os acordos com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e com o irmão Friboi, Joesley Batista. Esbarrou no PSDB, especialmente no senador Aécio Neves (MG), embora o partido ainda esteja bem mais preservado nas investigações se comparado com as outras duas grandes legendas, PT e PMDB.
Impossível saber agora como Janot passará à história. Se como o procurador que denunciou os graves problemas existentes na relação de todos os partidos políticos com seus financiadores. Se como aquele que, mordido por essa ambição, se precipitou e acabou ludibriado por um bandido. Ou se, humano que é, alguém que teve seus erros e seus acertos. Independentemente do que prevaleça, o certo é que Janot colecionou desafetos. No cumprimento do seu papel, como ele argumenta, ou não, o certo é que Janot foi mesmo um procurador de encrenca geral da República.
E percebe agora que isso vai lhe trazer um custo. Espera que as reações contra ele agora sejam ainda maiores. E é provável mesmo, se ele agora perde a chance de continuar conduzindo novas denúncias contra seus alvos. Especialmente se houver mesmo alguma mudança de rumo na condução dos processos da Lava-Jato com sua substituição por Raquel Dodge.
Nesta quarta-feira (20), o Supremo Tribunal Federal acatou o envio da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer para a Câmara. Provavelmente, ela terá o mesmo destino da outra: a Câmara não deverá dar autorização para a abertura do processo enquanto Temer for presidente. Mas haverá o novo desgaste. O Congresso vai rodar pesado em bandeira 2 para livrar novamente o presidente, e tudo o mais que se sabe. Foi a flecha final de Janot. Seus alvos certamente não ficam felizes. Janot está certo: como diz na entrevista, muito provavelmente a pressão sobre ele só vai aumentar…