No ano passado, durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, ou no episódio da condução coercitiva de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidenciável do PDT Ciro Gomes foi um dos mais veementes defensores dos dois petistas e crítico da condução dos processos políticos e de investigação que os fustigavam. Em matéria publicada hoje no UOL, Ciro comenta o depoimento do ex-ministro de Lula e Dilma Antonio Palocci para bater pesado nos dois.
Segundo Ciro, as acusações feitas agora por Palocci derrubam o argumento de que Lula seria vítima de um “inimigo externo”, que o fustiga somente com intenções políticas. Palocci pode ser tudo, menos um “inimigo externo”. Todos os postos que ele galgou no PT e no governo aconteceram com o aval expresso de Lula, de quem sempre foi íntimo. “Na medida em que o braço direito de Lula, como eu sei que Palocci era, faz isso (a acusação), fica muito difícil sustentar essa narrativa. Pelo menos, atribuir isso a um inimigo”, diz a reportagem.
Ciro, em seguida, vai mais longe, referindo-se à dinheirama (R$ 51 milhões) encontrada no apartamento em Salvador ligado a Geddel Vieira Lima. “Esse dinheiro foi roubado nos governos Lula e Dilma”, diz Ciro, sem maiores eufemismos.
Ciro sempre poderá dizer que não costuma guardar para si o que pensa. E que o desenrolar das coisas do ano passado para cá mudou seu ponto de vista. Especialmente, a partir do depoimento de Palocci que, de fato, é alguém de dentro do PT, da cúpula do partido e de seus dois governos. Mas não deixa de ser sintomática, também do ponto de vista político, a mudança de posição de Ciro.
Até o início deste ano, Ciro imaginava a chance de poder ser um plano B do grupo ligado ao PT na disputa presidencial. Chegou a verbalizar claramente achar que seria “um desserviço” ao Brasil Lula disputar as eleições de 2018. Pelo seu ponto de vista, porque isso manteria uma polarização que não tem sido benéfica. Em determinado momento, de fato, a hipótese de Ciro ser o plano B chegou a ser cogitada muito seriamente.
Mas Lula colocou-se candidato. Aparece como líder em todas as pesquisas. E, caso não dispute, por conta dos seus problemas com a Justiça, ficou longe de ser Ciro a preferência como alternativa. O PT tratou de colocar como hipóteses nomes do próprio partido: o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner.
Se Ciro vier a ser candidato, terá de disputar, provavelmente, com Lula ou algum nome do PT. Apresentar-se como opção dos votos à esquerda com Marina Silva, da Rede. Marina subiu o tom contra o PT e contra toda a onda de corrupção levantada pelas investigações da Lava-Jato e similares no último programa eleitoral do seu partido. Ciro, por mais graves que sejam as acusações de Palocci e o quanto que isso tenha influído na sua mudança de posição, não podia deixar agora de se posicionar.