Na repercussão da votação desta quarta-feira (2) na Câmara, que livrou o presidente Michel Temer de ser processado por corrupção passiva, chamam a atenção duas reações vindas do Supremo Tribunal Federal (STF), palco onde ele seria julgado, se a decisão tivesse sido outra. Temer ganhou, mas pacificar o cenário político é tarefa que ainda exigirá algum caminho. E as reações dos dois ministros são uma evidência disso, pela imensa diferença nas opiniões e pela quantidade de teor político inserida nelas.
Para o ministro Gilmar Mendes – está no jornal O Estado de S. Paulo –, a votação de ontem na Câmara foi um sinal de “estabilidade”, de que o sistema de “checks and balances” (pesos e contrapesos) está funcionando. Ou seja, na avaliação de Gilmar Mendes, um excesso do Ministério Público ao pedir o processo contra Temer foi corrigido pela Câmara. É isso o que ele quis dizer. Até porque, na sequência, ele afirma que a situação na qual o presidente foi denunciado gerava instabilidade. E que desde a delação feita pelo irmão Friboi Joesley Batista o Brasil vivia um estado “jurídico-político-policial”. Agora, considera Gilmar Mendes, será possível, ultrapassado o episódio, os parlamentares se debruçarem na reforma política, tema que seria prioritário.
Já para o ministro Luís Roberto Barroso – também está no Estado de S. Paulo –, a sessão da quarta-feira na Câmara se insere num cenário de ostensiva “operação abafa contra a corrupção”. Com todas as letras, Barroso diz existir “uma legião de pessoas” que querem que o Brasil continue a ser “o país feio e desonesto que conhecemos”. A tal legião, diz ele, teria aliados importantes em todas as partes: nos altos escalões da República, na imprensa, etc. Cada um que conclua a quem o ministro Barroso se refere.
A verdade é que o processo de depuração da política brasileira que vem desde o julgamento do mensalão pode estar começando a viver agora uma hora de impasse. O que muita gente esperava – que o Ministério Público, a Justiça e a Polícia Federal parariam após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a derrocada do PT – não aconteceu. Diante do fato que o lado que faz a investigação não parou, tenta-se parar pelo lado que faz a política.
Como apontou Helena Chagas, há determinados comportamentos na votação de quarta que ainda necessitam de melhor explicação. Por que a oposição concedeu tão facilmente o quórum? Por que não havia viva alma nas ruas protestando? Quem quer investigar? Quem quer se proteger? Quem quer passar a política a limpo? Quem quer apenas se eleger? São as cenas dos próximos capítulos…