Há 25 anos os eleitores usam a urna eletrônica na escolha dos seus representantes no Executivo e no Legislativo. Ao longo desse período foram realizadas 13 eleições, das quais a família Bolsonaro participou de quase todas sem nunca apresentar qualquer crítica à lisura do sistema. Agora, talvez por não ter uma pauta própria ou para desviar o foco das investigações da CPI da Pandemia e da sua má gestão no governo como um todo, o presidente da República põe em xeque a segurança do sistema eleitoral brasileiro e abre uma discussão completamente inútil em torno de um tema já pacificado.
Antes mesmo da pandemia do coronavírus o Brasil já enfrentava sérios problemas: desemprego, baixo crescimento da economia, falta de investimento em saúde, educação, esporte, cultura e segurança, infraestrutura precária para o escoamento da produção, entre tantos outros entraves ao desenvolvimento.
O governo Bolsonaro, no entanto, nunca apresentou nenhum projeto para resolver qualquer desses problemas, ao contrário, trouxe outros ao País. Nomeou pessoas completamente despreparadas para o cargo, como Abraham Weintraub, que comandou a Educação sem saber sequer escrever o português. Ou Ricardo Sales, que cuidou de tudo, menos do meio ambiente. Sem falar no general Eduardo Pazuello, na Saúde, que, com sua incompetência e subserviência, agravou os efeitos da pandemia.
Para piorar a situação, a má gestão do presidente no combate à covid-19, além de provocar a morte de quase 560 mil brasileiros, aprofundou ainda mais as desigualdades e os problemas sociais do País. Mas Bolsonaro está mais preocupado em criar uma polêmica desnecessária sobre o sistema eleitoral brasileiro, testado e aprovado desde 1996, do que reconhecer sua incompetência e inépcia e buscar soluções para os reais problemas do País.
Certamente a discussão em torno do voto impresso é uma tática para desviar o foco das interferências na Polícia Federal e na Abin para tentar salvar seu rebento – o senador Flávio Bolsonaro – das confusões em que se meteu, embolsando parte do salário dos seus funcionários num esquema conhecido como rachadinha.
Ah, pode ser também para que ninguém perceba que, ao invés de trabalhar, usa verba pública para fazer campanha eleitoral antecipada, circulando de motocicleta pelo País. Ou quem sabe para que seus seguidores não acompanhem as investigações da CPI da Pandemia no Senado, que vem revelando que a implicância com a vacina não era por “ideologia” ou na crença de que o povo se transformaria em jacaré, mas por interesses escusos.
É provável que o inquérito das fake news no STF, ao qual Bolsonaro foi incluído como investigado, não resulte em nada. Talvez por isso o presidente continue arrotando grosserias como as que disse nessa terça-feira (2) no cercadinho do Palácio da Alvorada, voltando a ameaçar as eleições do próximo ano.
O basta nas atitudes do presidente precisa ser dado pelo Congresso, a quem cabe fiscalizar os atos do Executivo. Infelizmente, para que deputados e senadores saiam da inércia, é preciso que o povo vá às ruas como aconteceu em 2013 e 2016.
Enquanto não sentir a pressão popular, os presidentes da Câmara e do Senado vão continuar fingindo que não estão vendo os desatinos de Bolsonaro. O deputado Arthur Lira tem mais de 125 pedidos de impeachment engavetados e não vai assinar nenhum até que se sinta ameaçado.
Assim, o Brasil vive uma crise atrás da outra porque no fim de tudo o que Bolsonaro quer mesmo é brigar e criar tumulto. Se a proposta do voto impresso fosse aceita, certamente ele criaria outra polêmica sem importância real. Simples assim.
A essência de Bolsonaro é o caos, o conflito. Ele não sabe viver em paz.