Os tucanos paulistas querendo banir Aécio Neves da vida política estariam cutucando a onça com vara curta. Pode ser mais um erro da proverbial inabilidade dos paulistas para tratar de política nacional. Sempre que São Paulo tirou Minas Gerais do jogo acabou perdendo a partida e pagando com longos anos de ostracismo.
Opondo-se à indicação do relator da denúncia contra Temer, o PSDB de São Paulo abre o jogo. A permanência de Bonifácio Andrada na relatoria e a disputa entre Senado e STF são as duas caras da mesma moeda. Aí a diferença entre os casos anteriores de Delcídio, Cunha e demais confrontos legislativo contra judiciário (“remember” Renan Calheiros).
Na última vez que São Paulo deu um chega para lá em Minas, foi quando o ex-governador Júlio Prestes aplicou uma carona no mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada. Deu no que deu: Júlio Prestes não tomou posse na presidência da República e Antônio Carlos virou uma das avenidas mais importantes do Rio de Janeiro, com o nome de Presidente Antônio Carlos. Nota: quando a rua ganhou este nome, governadores já não eram mais presidentes. O título foi um tapa de luva.
Agora os tucanos de São Paulo querem tirar Aécio da frente. E o que têm pela frente: encontraram Minas Gerais coesa, fechada, PMDB e PSDB unidos, tendo à frente a figura emblemática de Bonifácio de Andrada.
Resultado: aconteça o que acontecer o PSDB perde uma perna com essa desastrosa operação de defenestração do líder mineiro.
Muita gente em Minas está considerando esse processo uma afronta. Para demonstrar sua reprovação, botou à frente um emblema. Diria o Corso: diante desse Andrada 196 anos de vida parlamentar brasileira vos contemplam. Desde o Congresso do Porto em 1821, que teve uma bancada de parlamentares brasileiros integrando as Cortes, esse clã dos Andrada ofereceu um de seus filhos a todas as legislaturas dos parlamentos brasileiros, deputados ou senadores, quatro dos quais foram presidentes da Câmara, oito ministros de estados e dois ministros do Supremo.
Não é por ser tucano que Bonifácio Andrada recebeu a missão de defender Aécio, este próprio da terceira geração de políticos da região histórica de Minas. Os tucanos paulistas derrubaram a presidente mineira Dilma Rousseff. Agora jogam às feras um candidato que era um obstáculo às candidaturas do trio Alckmin/Doria/Serra. Não vai ser fácil.
Uma possível secessão do tucanato mineiro é uma possibilidade concreta, podendo, ainda, levar outras frações do PSDB de outros estados. Em Minas ninguém dá Aécio como morto. Pelo contrário, vê-se no seu líder mais expressivo neste momento uma possibilidade de retomar o poder estadual, atualmente nas mãos do PT. Não que ele vá ser o candidato, mas vai influir na escolha.
Por sinal, nem mesmo a esquerda mineira vê com bons olhos o linchamento de Aécio pela grande imprensa do eixo da Via Dutra. Fernando Pimentel apanha do mesmo látego.
Por outro lado, muitos próceres do PMDB estão afagando Aécio Neves, cultivado como uma nova possibilidade para o partido de Ulysses e Tancredo, que procura se relançar sobre os escombros do PT e do próprio PSDB em fase de derretimento.
Atento a esses fatos, o presidente Michel Temer vê no fortalecimento da aliança com Aécio, ambos dividindo a mesma tábua de salvação, um fermento para o renascimento do MDB, em fase final de articulação.
Essa disputa no ninho tucano e o confronto entre Senado e STF têm suas peculiaridades. Por exemplo, do que se diz: Delcídio Amaral foi nocauteado no primeiro golpe porque era um senador de Mato Grosso do Sul; já Aécio, vindo da poderosa Minas Gerais, pode abalar o sistema de forças políticas. Sua aliança com Temer, líder de um partido fraco em São Paulo, tem potencial para alterar o mosaico político.
Como diz uma raposa felpuda: um presidente impopular pode não ajudar um candidato (vide Sarney em 1989), mas pode atrapalhar muito. Sacando a sabedoria política alagoana, lembra o ex-deputado Aldo Rebelo: “O sertanejo diz que governo é como cobra, mesmo morta a gente desvia”.