Que o ex-governador Sergio Cabral era ladrão, nunca ninguém duvidou.
O que ninguém imaginava era a extensão da roubalheira. O mesmo acontece com o capitão-presidente. Que ele era despreparado para o cargo sempre foi publico e notório. O que ninguém imaginava era a extensão desse despreparo.
Mas Bolsonaro é o que sempre foi: um ativista do ódio, um desconhecedor profundo dos problemas nacionais, um marionete nas mãos dos filhos “pitbull”. Chefe de Governo, obviamente, não é obrigado a ser especialista em tudo.
Mas deve ter um mínimo de inteligência – ou esperteza – para formar uma equipe competente que conquiste o respeito da população.
As urnas decidiram, em outubro, que deveríamos ter um governo de direita.
É do jogo. Mas o governo do capitão é a desmoralização da direita.
No golpe de 1964, Castelo Branco – assim como Bolsonaro – não ouviu o Congresso para formar seu ministério. Convocou notáveis como Roberto Campos, Carlos Medeiros Silva, Ney Braga, Otavio Gouveia de Bulhões, Raimundo de Brito e Luiz Viana Filho, entre outros.
A direita sempre teve nomes de peso, e não essa escumalha que o capitão levou ao poder.
Por isso ele tornou-se refém dos militares, humilhados diariamente diante dos insultos do Bruxo da Virginia; dos filhos, que alimentam Olavo de Carvalho e acreditam em suas sandices; e de seu posto Ipiranga, que a cada semana ganha nova rasteira, não só em relação a reforma da Previdência, como também em sua proposta liberal.
Diz a lenda que o pior dos mundos é o do ‘cretino com iniciativa’. Mas é o que temos. Na quinta-feira, o capitão desautorizou a Petrobras a aumentar o preço do diesel, temendo uma hipotética greve dos caminhoneiros, embora não houvesse nenhuma mobilização para uma nova paralisação.
Não adianta produzir relatórios para Bolsonaro pois ele não entende o que lê. Assim como não sabe, ao menos, ler um discurso.
E, no improviso, é um desastre.
Na fronteira com o Paraguai, elogiou o ‘estadista’ Stroessner; em Santiago exaltou Pinochet, o que trouxe problemas para o presidente chileno.
Alguns, fazendo piada, temiam um elogio a Hitler caso visitasse a Alemanha.
Não precisou ir tão longe: na semana passada, o capitão disse que o Holocausto pode ser “perdoado”, o que lhe valeu uma reprimenda do presidente israelense.
O maior problema de Bolsonaro é ele próprio, já que não entende nada de assunto algum.
Quando o deputado Rodrigo Maia cobrou um ativismo maior em favor da reforma da Previdência, o capitão disse que “já fiz a minha parte. Enviei a proposta ao Congresso”.
Mas ele é incapaz de defender a proposta, pois a desconhece. Sabe apenas que existe uma idade mínima, mas não tem a menor ideia de suas consequências. Aposentado aos 33 anos, quando foi expulso do Exército, o capitão não tem, nesses míseros 100 dias de governo, a menor condição de levá-lo adiante.
Quando o general Mourão diz que “não podemos errar, pois se errarmos a conta irá para as Forças Armadas”, fica claro o aviso de que o gato subiu no telhado.
E quando Bolsonaro diz que “não nasci para ser Presidente”, ele admite que já está no telhado.
Tudo será uma questão de tempo.