A cruzada golpista do capitão Jair Bolsonaro adensou o isolamento do Executivo. A acentuada erosão da credibilidade evolui, dia a dia, para uma crise de autoridade, que já atrofiou mandatos presidenciais e agora ameaça a trincheira da falange Bolsonarista. Recorrentemente, um dos praças conspira contra ou estimula alvejar a democracia. Na maioria das investidas o corneteiro do toque totalitário é o desafinado capitão.
Em plena crise do Covid-19, a predicação golpista desavergonhou-se no ato pedindo o AI-5, intervenção militar, o fechamento do Congresso e do STF em frente ao QG do Exército. Naquele dia, 19/04, eram 2.400 mortes. “Nós não queremos negociar nada. Nós queremos ação pelo Brasil”, regurgitou o capitão. “Chega da velha política. Estou aqui porque acredito em vocês e vocês estão aqui porque acreditam no Brasil”, bravateou desafiando a ordem unida da ciência contra aglomerações. A escória da velha política já foi recrutada para o fortim de Bolsonaro.
Dias depois, em 03/05, depois da rendição diante do veto do STF ao indicado para PF, arremeteu: “Temos as Forças Armadas ao lado do povo, pela lei, pela ordem, pela democracia, pela liberdade. Nós queremos o melhor para o nosso país… Chega de interferência. Não vamos admitir mais interferência. Acabou a paciência… Peço a Deus que não tenhamos problemas nessa semana. Porque chegamos no limite, não tem mais conversa. Daqui para frente, não só exigiremos, faremos cumprir a Constituição.” A indisciplina democrática ocorreu quando o Brasil chorava 7 mil mortes.
O reforço da tropa que ele contava o desertou e se aliou às fileiras da legalidade. O desespero assumiu o comando dessa legião maltrapilha de Brancaleone, uma soldadesca alquebrada diante das baixas em série. A ira insana da armada indigente, agora, afunila contra 1 dos poderes, o Judiciário. O pelotão vem tomando uma coça nesse flanco. Após o raquitismo cognitivo diante da pandemia, o capitão viu sua patente ser rebaixada pelo cerco das leis e da Justiça. Foram muitas derrotas.
Desprezando o charlatanismo, o STF assegurou aos governadores o comando do isolamento. Foi abatida a nomeação do diretor-escudeiro da PF por ferir o princípio da impessoalidade. O STF também disparou 3 inquéritos sensíveis que miram o ovo da serpente: Fake News, pregação golpista e as denúncias de Sérgio Moro. Os delegados destas investigações também obtiveram o salvo-conduto no posto por decisão do STF. Os crimes – comum e de responsabilidade – rondam a guarnição.
O despojo prosseguiu na fortificação da Lei de Acesso à Informação, no entrincheiramento da CPMI das notícias falsas, na derrocada da campanha publicitária “O Brasil não pode parar”, na negativa para operadoras de telefonia compartilhar os dados dos cidadãos com o IBGE e até mesmo na abertura do inquérito, por racismo, contra Abraham Weintraub.
O estandarte da toga forçou um reposicionamento da cavalaria bolsonarista. Agora a marcha belicosa mira unicamente o STF, contra quem o capitão ameaçou esporear na batalha da Federal, na qual capitulou. Meia dúzia de milicianos aquartelados em Brasília vomitaram hinos integralistas em frente ao STF. Isso no mesmo dia da expedição de Bolsonaro/empresários rumo a Suprema Corte para salvar o generalato do CNPJ. Ali já eram 9,8 mil mortos. Um exército de baixas patentes. “E dai?”, são meros CPFs.
Depois do 01, 02 e 03, a hoste conta ainda com o adiposo Sargento Tainha. O novo estrategista do batalhão é Roberto Jefferson. Ele também metralhou os ministros da Corte: “urubus”. Sabujo raso e cavalariço da velha política pregou o golpe abertamente posando com um rifle. Para assaltar os cofres públicos até tentou ser mais discreto, mas foi pilhado no mensalão. Foi sentenciado a 7 anos de cana e encarcerado por 15 meses no instituto penal para velhacos, em Niterói.
O “urubu” Luis Roberto Barroso abriu as asas da liberdade sobre o delinquente, que foi para o regime aberto. Eis a paga do ladravaz. O salteador prega o expurgo de ministros do STF e a ruptura de contratos em concessões. Há uma deterioração grave quando um sentenciado se sente confortável em empunhar armas para perpetrar novos assaltos, desta vez contra a democracia e aqueles que o condenaram. O recruta Jefferson prega a prevalência do “fuzil” contra “toga”.
Sentinela da muralha do manicômio, Abraham Weintraub, também teria sugerido “mandar todo mundo para cadeia” na espalhafatosa reunião da patrulha governista, em abril. Nem na várzea Juiz é tratado assim.Só no destacamento mambembe de Bolsonaro. O próprio capitão, em refrega recente, espalhou um vídeo onde os membros da Corte eram retratados como hienas. Weintraub, o semialfabetizado, também terça as armas contra Jefferson. A barricada na cidadela, antevendo a rapinagem iminente, é inútil.
Dois conscritos da estrebaria bolsonarista marcharam até a residência do ministro Alexandre de Moraes, que impôs a retirada do homônimo Ramagem da chefatura da polícia. O acampamento fascista para sitiar, intimidar um ministro da Corte e conspirar contra a democracia foi enquadrado. Terão a retaguarda do estado de direito para explicar as ameaças, mas caíram do cavalo. Os carrascos do pelotão de fuzilamento agora são réus.
O capitão despreza fatos, renega evidências, desconhece a razão, ignora a lógica, recusa a compreensão e sabota a ciência. Assinou um só tratado: com a mentira. É intrinsecamente tosco e não há enxertos disponíveis. A latrina golpista é primitiva. Perguntado, em 1999, se daria um golpe não hesitou: “Não há a menor dúvida, daria golpe no mesmo dia”. Também pregou a tortura. “Pau de arara funciona, sou favorável a tortura e o povo é favorável”.
A inépcia genocida da facção ameaça concretizar o morticínio previsto em 1999, onde o capitão conjecturava a chacina de 30 mil. No combate ao vírus ele rifou o próprio contingente e já chegamos a marcas macabras de mortos. O menoscabo com a vida o equipara a um vampiro, vagando na própria demência. Uma bala de prata o aguarda em uma esquina qualquer. Se morrer, e dai? Os brasileiros que mergulham no esgoto e “nada pegam” também morrem.
“Através do voto você não vai mudar nada nesse país, nada! Absolutamente nada! Só vai mudar, infelizmente, quando um dia nós partimos para uma guerra civil., aqui dentro e fazendo o trabalho que o regime militar não fez: matando uns 30 mil, começando com o Fernando Henrique Cardoso, não deixar pra fora não. Matando! Se vai morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente”. Seus preceptores Carlos Alberto Brilhante Ustra, Augusto Pinochet, Sebastião Curió fizeram isso: mataram inocentes.
Com o flagelo Bolsonaro à frente da capitania, em 14 meses, o Brasil vai purgando o posto mais desonroso da história universal da infâmia. Ocupamos o degrau mais degradante e vil da humanidade, só comparado ao nazismo alemão no desdém pela vida. A vergonha não será aumentada com uma quartelada. A “Arte da Guerra” nada ensinou ao capitão. A farda golpista encarquilhou e já não serve mais. É um golpe fardado ao fracasso.