Pra se lançar candidato à presidência da república, Michel Temer terá que convencer o próprio PMDB de que é uma alternativa viável. Alguns emedebistas lembraram do lendário Ulysses Guimarães que disputou as eleições de 1989 e fracassou. O “Senhor Diretas” teve empolgação de início de seus aliados mas as divisões internas do partido e a economia em baixa pesaram mais. Nas urnas, conseguiu apenas 4% dos votos, amargando o sétimo lugar. Ao contrário do homem símbolo da Constituinte, Temer parte de uma popularidade baixa. Por isso, apesar de estimulado pela tropa do Planalto, faz discurso de campanha mas evita dizer a frase “eu sou candidato”.
Além da disputa de 1989, ao pensar em um cenário com Temer candidato, políticos do MDB também buscaram semelhanças com o pleito de 1950, quando o deputado Cristiano Machado perdeu votos até de seu partido, o PSD, para Getúlio Vargas, que ganhou com ampla maioria. A transferência dos votos de Cristiano para Vargas ficou conhecida no jargão político como ‘cristianização’. Segundo informações do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas, o candidato do PTB obteve 48% dos votos, seguido por Eduardo Gomes, com quase 30% do eleitorado. Já Cristiano Machado não foi bem, com 21,5%.
Se depender das pesquisas internas, 68% dos emedebistas responderam que apóiam Temer. É maioria mas não reflete o sentimento de setores de peso do partido, como a ala que vem do Norte e Nordeste – e tem simpatia declarada pelo ex-presidente Lula. Fazem demonstrações disso, o senador alagoano Renan Calheiros e o ex-ministro piauiense Marcelo Castro. “Eleição é cada um por si. Embora o sentimento da população seja pela mudança, não há na prateleira matéria prima para isso”, afirma um dos interlocutores de Temer, emedebista que não apóia uma eventual candidatura do presidente. Quem está desse lado, avalia que Temer deveria honrar seu compromisso de concluir o mandato e abrir espaço para outro nome do MDB na disputa ou de alguém apoiado pela legenda. Nessa busca, até o ministro da secretaria de governo, Carlos Marun, se ofereceu para o sacrifício. Em reunião com deputados emedebistas, ele disse que topava o desafio de ser o candidato do Planalto para fazer o debate em defesa das reformas e de Temer. Provocou risos, tapinhas nas costas, e até uma certa admiração de quem o acha bom de discurso e corajoso. Parlamentares saíram da conversa com a sensação de que o ministro teve um “arroubo”, um “relampejo”, já que não é visto como opção.
Em entrevista à Istoé, o presidente Michel Temer afirmou que não ser candidato seria covardia. “Temer avançou um pouco mais no discurso, eu gostei”, avaliou o vice-líder de governo, Darcísio Perondi (MDB). “Vai ser difícil, vai”, completou.
Além das eleições de 1989, o processo de “cristianização” se evidenciou também nas eleições de 1985, na escolha de Tancredo Neves como presidente da República pelo Colégio Eleitoral, com derrota de Paulo Maluf, que perdeu votos entre apoiadores.