Rússia, China e Cuba sustentam regime na Venezuela

Enquanto os venezuelanos passam fome, o Governo Maduro está se armando com o apoio de Rússia, China e Cuba. Isto inclui o melhor sistema de defesa aérea da América Latina

Maduro e Putin

Rússia, China e Cuba aproveitam a crise sem-fim na Venezuela para intensificar sua presença militar no país caribenho e sul-americano. Na última terça-feira (2), foi anunciada a abertura de um centro de treinamento – em local não revelado – para habilitar pilotos do país a operarem os helicópteros de guerra Mi-35M, além de outros aparelhos de transporte militar.

No dia 25 de março, dois aviões russos, um deles carregando 35 toneladas de armas, pousaram no aeroporto de Caracas, com 100 militares e um general. No último dia 1º de abril, chegou a Caracas um contingente de 120 militares chineses e mais de 60 toneladas de equipamentos militares.

Tanto a Rússia como a China são grandes credores da Venezuela e a maioria desses recursos são destinados à compra de todo o tipo de material bélico. Políticos de oposição e diplomatas ocidentais em Caracas comentam que esse contingente de militares russos e chineses chegam para oferecer assessoria técnica e treinamento às forças armadas venezuelanas.

Há também cerca de 400 mercenários russos – a maioria com atuação na guerra da Síria – prontos para entrar em combate. Os dois países estão financiando o país caribenho a fundo perdido, pois o governo do ditador Maduro já não tem recursos para cumprir seus compromissos financeiros.

“Rússia e China financiam o país caribenho a fundo perdido,
pois o governo do ditador Maduro já não tem recursos
para cumprir seus compromissos financeiros”
.

A Rússia e a China se envolvem cada vez mais na Venezuela como estratégia geopolítica. Ambos os países mandam uma mensagem aos americanos. “Não se envolvam em nossa zona de influência. Também temos os meios de nos envolvermos na sua.”

A parceria militar da Venezuela com a Rússia começou em 1999, quando Hugo Chávez chegou ao poder e decidiu reequipar as forças armadas do país com material bélico russo de todos os tipos. Desde fuzis AK-47, a modernos tanques T-92 e outros blindados de última geração. A Venezuela também comprou da Rússia caças Su-30Mk2, capazes de competir com avançados aviões de combate americanos em uma eventual confrontação nos céus do país.

Especialistas europeus ouvidos pela BBC afirmam que a Venezuela incorporou ao seu arsenal bélico “o melhor sistema de defesa aérea da América do Sul”. Dentre esses equipamentos, está o S-300, um sistema de mísseis antiaéreos de fabricação russa, que esteve em operação na guerra da Síria. Na crise humanitária na fronteira da Venezuela, em 23 de fevereiro deste ano, houve rumores de que uma bateria do S-300 teria sido deslocada para a região, a cerca de 11 quilômetros de Pacaraima, em Roraima.

Nicolás Maduro com Xi Jinping na China

Na Venezuela, há também o envolvimento cubano, desde o início do regime chavista, há 20 anos. Um contingente não revelado cuida da segurança de próceres do regime, além de atuarem nas próprias Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (Fanb) e no Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin).

Estimativas conservadoras calculam esse contingente entre 50 e 60 mil militares cubanos atuando para manter o regime em pé. Um sinal de que Maduro não joga todas as suas fichas nas próprias Forças Armadas, mesmo com um contingente de dois mil generais. A maioria sem comando na tropa.

“[Estudiosos] ouvidos pela BBC afirmam que
a Venezuela incorporou ao seu arsenal bélico
“o melhor sistema de defesa aérea da América do Sul”
.

Enquanto se arma até os dentes com ajuda de potências estrangeiras, a economia e a estrutura administrativa do país entram em colapso. Além dos apagões frequentes em todas as regiões da Venezuela, parte da população passa fome e continua atravessando a fronteira com os países vizinhos. São frequentes imagens de pessoas em pele e osso em hospitais, onde falta de tudo.

Doenças antes erradicadas, como sarampo, malária e outras moléstias infecciosas, se alastram em todo o país.

É o preço que a população está pagando para um regime que já não tem nenhuma razão de ser. Maduro e seus asseclas só se sustentam no poder com a ajuda externa para armar e controlar os militares da Venezuela.

* Luís Eduardo Akerman é jornalista e analista de política exterior. Ex-editor de Internacional do Jornal de Brasília.

Deixe seu comentário