Havia suspense no Palácio do Planalto. Expectativa nas redações das emissoras de televisão, rádio e jornais. Calma e tranquilidade no gabinete do Presidente da República. Não poderia ser de outra forma. É um Chefe de Governo decidido, explosivo, e recentemente avisou que estava saturado com provocações políticas. “Agora chega. Quem manda aqui sou eu”, avisou.
Haveria outra reunião do Ministério com a presença da imprensa. A maioria dos problemas a serem debatidos são de amplo conhecimento do governo e da população. Só não são resolvidos. Metade do país não tem saneamento básico, a miséria é ampla, as favelas numerosas. O banditismo cresce. A corrupção é velha companheira. Todos sabem disso. Mas a situação continua inalterada. Fora a novidade do coronavírus, uma “gripezinha” violenta que já matou mais de 50 mil brasileiros.
O Presidente mandou avisar a todos os ministros para que comparecessem com as máscaras protetoras. Mas não máscara de florzinha. Assim seria mais um detalhe para a imprensa não criticar. “O Senhor dá mal exemplo e quase nunca usa a máscara, Presidente”, arriscou um auxiliar de gabinete. “Eu uso quando eu quiser”, foi a resposta.
Começa a reunião. Ligação da portaria é atendida por um ajudante de ordens. ”Tem aqui um Sr. querendo entrar, diz que é ministro interino da Saúde”, informa. “Desta vez pode. Mas pede a ele para regularizar sua situação funcional, basta de interinidade”, afirma o Chefe do Gabinete Civil. “Estou aqui para acabar com a coronavírus, que vocês não conseguiram. Não me interessa a burocracia de cargos”, desabafou o Dr. General.
Outro telefonema para o presidente, que assim não podia trabalhar. Direto de Miami, o ministro que mais agrediu a gramática portuguesa e a educação em geral queria falar com o Presidente. Se lamentou. Disse que saiu quase escorraçado do Brasil e está com medo de ser repatriado.
“Será que o Sr. poderia pedir ao Trump para garantir minha permanência aqui, presidente? Eu sei que ele é seu chapa”, martirizou-se o ex-ministro. O Presidente riu e deu conselhos realistas ao foragido. “O Trump está por baixo. Peça um adiantamento de contrato com o Banco Mundial, onde você vai ganhar uma bolada. Se negarem vá para a China. Lá eles te adoram “ disse o presidente.
O Presidente é de humor variado: uma hora zangado, na seguinte alegre. É melhor conhecê-lo neste segundo momento. Os jornalistas já davam sinal de insatisfação. Uma hora de reunião e nenhum tema debatido em profundidade. Nenhum palavrão. Reunião de ministério é boa quando sai discussão ou um chama o outro de incompetente, afirmou um repórter. A gente não está aqui só para ver coisa ruim, temos é que informar corretamente, disse outro.
Para evitar mais confusões e permitir ampla comunicação do governo, a assessoria presidencial tomou uma decisão inédita. As próximas reuniões do ministério serão realizadas em live, no Palácio da Alvorada, para todo o Brasil. Na área atrás do palácio, arborizada e em condições de receber a parafernália eletrônica. Sem patrocínio.
— José Fonseca Filho é jornalista