Oficialmente ainda não temos nenhuma candidatura registrada na Justiça Eleitoral, até porque isso somente acontecerá no final próximo mês de julho de 2022, quando termina o prazo para registro de candidatos. Serão nos próximos dois meses, como se costuma dizer, que a onça vai beber água na escolha dos candidatos.
Pela teoria da ferradura, como expus no último artigo n’Os Divergentes, a linha reta do horizonte ideológico entortou e os extremos se aproximaram como parece ter acontecido com a chapa Lula/Alckmin. De repente, apareceu a desistência do ex-Governador João Doria e, logo em seguida, o TSE aprovou Federação Partidária do PT, PC do B e PV, vale dizer, pelos próximos 4 anos estes partidos de esquerda terão que estar juntos como se fossem um partido único no Congresso, dividindo desde o fundo eleitoral, tempo de televisão e com um só programa de governo.
Será que o católico apostólico romano Alckmin, ante as últimas afirmações esquerdistas e radicais de Lula e seus comunistas aliados, permanecerá na chapa? Da outra banda, será que a direita do Presidente Jair Bolsonaro, aparentemente ajustada com o Centrão, também formará uma Federação direitista? E a terceira via – entre a esquerda e a direita, sem o Centrão -, qual a linha ideológica tomará, porquanto as rupturas internas do MDB e PSDB, com minorias fragmentadas para estereotipar um matiz ideológico de verdadeiro arco-íris para disputarem a eleição?
“Um arco-íris (também popularmente denominado arco-da-velha, é um
fenômeno óptico e meteorológico que separa a luz do sol em seu espectro (aproximadamente) contínuo quando o sol brilha sobre gotículas de água suspensas no ar. É um arco multicolorido com o vermelho em seu exterior e o violeta em seu interior laranja, amarelo, verde, azul, anil (ou índigo) e violeta. Tal simplificação foi proposta primeiramente por Isaac Newton, que decidiu nomear apenas cinco cores e depois adicionou mais duas apenas para fazer analogia com as sete notas musicais, os sete dias da semana e os sete objetos do sistema solar conhecidos à época”. (Wikipedia).
Tudo é possível na arte e ciência da política, que é farta em produzir fenômenos e fatos novos no cenário de uma determinada eleição. Nota-se no fantástico imaginário dos ditos cientistas políticos e analistas da nossa mídia, onde proliferam pesquisas para todos os gostos e interesses (nas eleições passadas as pesquisas foram o fiasco geral induzindo em erro milhões de eleitores), além de fatos novos que possam alterar o quadro de candidaturas estaduais, comprometendo as alianças nacionais. Bem possível que nada disso tenha, mas mesmo discordando de Marx como sempre discordei, a repetição da história pode ser tragédia para uns e farsa ou comédia para outros.
Fatos novos sacodem eleições como foi o escândalo dos aloprados, que deu tanto banzé e chegou até ao STF.
O sonho da internet virou pesadelo
O New York Times dedicou uma edição inteira de sua Magazine para discutir como o ideal da internet está se transformando.
Como bem destacou a publicação, a realidade da internet é que “seu poder de mercado é grande demais, sua influência sobre o discurso político e cultural é absoluta demais” e a fila daqueles que desejam colocar freios em sua ação aumenta a cada dia; como a senadora por Massachusetts, Elizabeth Warren, que viu nessa ação uma forma de ganhar crescente projeção.
Afinal, a internet oferece, cada vez mais, “a lot of nothing”. Mas o maior perigo vem mesmo do Leste, pois como o próprio Mark Zuckerberg destacou em sua “aula” na Georgetown University, em Washington, “há uma década, os grandes operadores digitais eram todos americanos. Hoje, 5 dos 10 maiores são chineses”. Uma alternativa “pior” que Google, Facebook e Amazon, em todos os sentidos. [Rafael Sampaio, redacao@correio24horas.com.br, 26/11/2019]
“O Partido Socialista Operário Espanhol, liderado por José Luís Rodríguez Zapatero, venceu ontem a eleição espanhola, contrariando todas as pesquisas e derrotando o conservador Partido Popular, do premiê José María Aznar e do candidato governista Mariano Rajoy. Em seu primeiro discurso como premiê eleito, Zapatero, 43, convocou à unidade todos os partidos para combater o terrorismo, no que será a sua prioridade. A reviravolta brusca em relação às pesquisas se deve ao comportamento do governo após os atentados de quinta, que mataram 200 pessoas e feriram quase 1.500”. [Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo, 15/03/2004]
Nesta campanha eleitoral, a brasileira, não bastam os 5 bilhões de reais do famigerado Fundo Eleitoral que os partidos pegam dos nossos impostos. Daí porque, quando o cara mais rico do mundo vem dizer que vai trazer internet para Amazônia – via seus poderosos
satélites – não está interessado em vender seus carros elétricos, mas ampliar seu império estelar. Será que não está deixando alguns com a pulga atrás da orelha?
No meu entender, o último fato novo desta atual campanha eleitoral, que pode criar um verdadeiro frisson, foi a vinda do dono da maior fortuna do mundo, o fabricante dos carros elétricos.
O homem mais rico do mundo chegou ao Brasil! Dono de empresas como Tesla e SpaceX, Elon Musk veio ao país e se encontrou com políticos, empresários e com o Presidente da República Jair Bolsonaro. Durante o encontro, foi anunciada uma parceria com a Starlink, que pertence à SpaceX, para oferecer internet banda larga via satélite para escolas em áreas rurais e monitorar a floresta amazônica.
Projeto da SpaceX – fornecedora de Musk de sistemas de lançamento espaciais -, a Starlink tem o objetivo de oferecer internet banda larga via satélite em todo mundo, prometendo velocidades de até 500 MB, baixa latência e sem limites para downloads. A ideia principal da empresa é construir uma rede com dezenas de milhares de satélites na órbita terrestre baixa. No final de 2021, o ministro das Comunicações do Brasil, Fábio Faria – marido de Patrícia Abravanel -, afirmou que a Starlink viria ao país para “conectar escolas rurais”. Este americano, Musk, que só num dia com a boataria das bolsas de valores ou efeito manada, perdeu 15 bilhões de dólares, bem poderá injetar virtualmente bilhões ou trilhões de “noticias ou versões” para alastrar seu império não só na Amazônia.
Frase infeliz tira brigadeiro do páreo
Em 1945, duas semanas antes das eleições presidenciais, o brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN, favorito da disputa presidencial, faz um tremendo gol contra, num ato no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, quando discursava para a elite carioca. No meio do discurso, ele agride os eleitores getulistas ao dizer que dispensaria o voto da “malta de desocupados que andam por aí”. Não existia TV e nem internet, mas o empresário getulista Hugo Borghi – dono de 150 emissoras de rádio – transmitiria para todos os cantos do país sua versão do discurso do brigadeiro dizendo que no dicionário a definição de “malta” era a “turma de trabalhadores que comem em marmita”, com isso propagou-se a versão do Brigadeiro candidato da UDN. Dias depois, o ex-presidente Getúlio Vargas apoiaria oficialmente a candidatura do candidato do PSD, Eurico Gaspar Dutra. Foi a pá de cal na campanha udenista, que acabaria perdendo a eleição por grande diferença.
Nas minhas campanhas eleitorais vi duas eleições ganhas serem perdidas nos comícios finais pelas expressões infelizes dos favoritos. Numa, o candidato na empolgação disse: “Se eu perder para um manco vou empatar com alguém? O adversário tinha uma deficiência na perna e isso virou a eleição”. Em outra, o candidato a vice-prefeito, tido como homem culto e letrado, quis tirar um sarro do adversário que tinha um linguajar bem interiorano, quando arrematou seu discurso, galhofando: “Então já fumu pra prefeitura”. Não foram porque em 3 dias a eleição virou e o letrado causídico ficou para advertência dos que se acham os bambambans da disputa eleitoral.
* Nilso Romeu Sguarezi é advogado. Foi deputado federal constituinte de 1988 (parlamentarista, defensor da Constituinte Exclusiva pelo voto distrital e não obrigatório através de PROPOSTA DE INICIATIVA POPULAR, art. 14, III, da CF)