São mais de 140 milhões os brasileiros em condições de voto nas eleições de outubro. As últimas pesquisas indicam, em respostas estimuladas, que Lula se encontra em primeiro lugar, Bolsonaro em segundo, Ciro e Moro em terceiro, vindo a seguir Dória e Simone Tebet. Brancos, nulos e abstenções atingiriam a 10% e os indecisos a 4%. Se as respostas não forem induzidas, mas espontâneas, a porcentagem de indecisos chega a alcançar 37%. Logo, para candidatos com reduzidas intenções de voto, o melhor caminho é o que leva àqueles que declaram não saber em quem votar.
Antes, porém, de empreender campanha, o candidato deve fazer exame de consciência, para tentar saber como é visto pela elite, pelo povo, pelo povão e pelo lúmpem-proletariado, “putrefação passiva das camadas da velha sociedade”, na expressão de Marx. Ciro Gomes demonstra ser voluntarioso, cheio de si. Doria é o modelo de elegância paulistana. Moro não consegue se livrar da aparência de juiz. Simone Tebet tem perfil de pessoa séria, dotada de coragem. Ciro Gomes, o mais preparado entre os pretendentes, se ressente da falta de partido forte.
O PDT é a imagem de Leonel Brizola, o caudilho sul-rio- grandense cujas qualidades eram ofuscadas pelo perfil autoritário e populista. João Dória luta contra a impopularidade, não superada pela incansável batalha travada contra a pandemia. Sente dificuldade em ser aceito pelas classes C e D. Moro é detentor de experiência no combate à corrupção. Deixou-se seduzir, porém, pelo desejo de integrar o STF, o que o levou a ser o breve Ministro da Justiça de Bolsonaro. Simone Tebet, a única candidata mulher, terá dificuldade em superar o lado fisiológico e atrasado do MDB, cujo arquétipo é o veterano senador alagoano Renan Calheiros.
Jair Bolsonaro é mau político. Repetirá a campanha de 2018. O discurso contra a corrupção está desacreditado. A trágica condução imprimida ao Ministério da Saúde, na pandemia do Covid-19, será uma das armas dos
adversários. Ao tentar impedir a ação preventiva dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, defendendo o uso da cloroquina e rejeitando a
vacina, a máscara e o isolamento social, assumiu a responsabilidade pelas mortes, pelo contágio, pela sobrecarga do SUS, das UTIs, dos hospitais públicos e privados.
Entregando o Ministério da Saúde ao general Eduardo Pazzuelo e, para substituí-lo, ao médico Marcelo Queiroga, Bolsonaro confirmou a postura negacionista e a decisão de interferir no enfretamento da pandemia com medidas autoritárias e erradas. Cabe a ele a desorganização das contas públicas, o calote dos precatórios, o retorno da inflação e dos juros altos, o incessante aumento de preços da energia elétrica e dos combustíveis.
Lula governou o Brasil direta e indiretamente cerca de 14 anos. Fez do Bolsa Família programa de governo. Os resultados são conhecidos.
Não há como escondê-los. A ideologia petista ou lulista, consistente na preservação do atraso, está presente na desindustrialização, na expansão da informalidade, no desemprego, na falência do sistema de ensino, na insegurança generalizada.
No ranking mundial da corrupção, entre 140 países analisados, o Brasil ocupa a 96ª posição. “Numa escala de 0 a 100 pontos, o Brasil alcançou 38 pontos – a terceira pior nota da série histórica alcançada na edição anterior”, informa o instituto Transparência Internacional. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) revela a extensão da miséria. Ocupamos a 75ª posição, abaixo do México, Sri Lanka, Turquia, Venezuela, Irã, Costa Rica, Líbano, Cuba, Sérvia, Trinidad e Tobago, Panamá, Bulgária, Uruguai, Portugal, Chile, Argentina.
O bolsonarismo e o petismo não libertaram o povo da miséria, da corrupção, da ineficiência da Administração Pública, do aumento da violência urbana, da impunidade. Muito se disse e nada se fez. Os temporais que se abateram sobre São Paulo desnudaram as condições em que se encontram as periferias, onde faltam habitações decentes, saneamento básico, pavimentação das ruas e segurança.
Os destinos do Brasil estão nas mãos dos eleitores. Cabe-lhes a
responsabilidade de decidir. Estamos em crise. A única forma democrática de enfrentá-la consiste no uso patriótico do voto. Enquanto elite, povo e povão
permanecerem alienados, recusando-se a participar de debates políticos e institucionais de interesse nacional, nada haverá a fazer, além de se lamentar.
— Almir Pazzianotto Pinto é Advogado. Foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho