Partidos usam federação como balão

Sergio Moro e o general da reserva do Exército, Carlos Alberto dos Santos Cruz - Foto Orlando Brito

O verbo da moda em Brasília é “federar”, e os partidos descobriram que, de fato, o instituto da federação pode ser uma mão na roda. Para as pequenas legendas, representa sobrevivência. Para as médias e grandes, com expectativa de poder, significa bancadas maiores e governabilidade. Por isso mesmo, sua concretização é dificílima, e desse amontoado de balões de ensaio lançados nos últimos dias devem sobrar no máximo duas ou três federações de verdade.

Dória, o candidato dos tucanos – Foto Orlando Brito

Partidos da chamada terceira via, por exemplo, andam perdidos às voltas com candidaturas que não se viabilizam e tentam inventar grandes jogadas para tentar mudar o quadro. Alguém acredita que o MDB, o velho MDB de guerra que, por si só, já é uma federação (sempre se dividiu entre grupos opostos) vai aprovar esse casamento com o PSDB para apoiar João Doria? Brincadeira.

Para ficar ainda nesta seara, os emedebistas conseguirão em cada estado, combinar que só terão candidatos  junto com o União Brasil, ex- PSL e DEM? E que isso vai durar até a eleição municipal de 2024? Óbvio que não,  e também nesse caso a “ameaça” de federação te sua função política. O MDB aumenta seu cacife para negociar com Doria uma união que todo mundo sabe que não vai sair.

Convenção conjunta entre DEM e PSL, em Brasília, após aprovação da fusão entre os dois partidos. O novo partido se chamará União Brasil e o número será o 44 – Foto Orlando Brito
Ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro – Foto Orlando Brito

O União Brasil, por sua vez, está usando a conversa de federação para fugir de uma hipotética união com o Podemos para apoiar a candidatura do ex-juiz Sergio Moro – que a ala ex-DEM, cheia de ex-acusados na Lava Jato, não quer ver nem pintado. Aliás, Moro deve acabar como o candidato mais isolado da temporada. O União Brasil está dando um jeito de driblar também uma eventual filiação.

Na quarta-feira, o STF encerra o julgamento sobre a constitucionalidade das federações, que deve legitimar, mas dificilmente dará mais tempo aos partidos além de abril para formalizá-las. Com isso, boa parte dos balões vai murchar. Os partidos podem continuar falando de alianças e coligações majoritárias, que são acordos temporários e restritos.

Mas, federação mesmo, serão poucas. O PT – que tem estudos mostrando que pode ter uma bancada de 25 deputados a mais em federação – tem chance de fechar a sua com PSB-PCdoB-PV. Ainda corre risco de os socialistas encrencarem no último momento e não entrarem, mas nesse momento caminham para a união. O Cidadania, por sua vez, se partiu em mil pedaços na discussão sobre o assunto, mas é provável que acabe fechando com o PSDB de Doria por questões de sobrevivência. Mesma razão que deve levar PSOL e Rede a “federarem”.

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