Prólogo se calhar ando triste chove impiedosamente há frio em uma Lisboa quiçá uma quimera à Ribeira para encostar a cabeça doce e macia almofada a beirar o Tejo do Chiado pombalino de ruas a brilhar em passos largos e apressados estou a chegar junto e ao pé da montra da Bertrand rés do chão vivo a entrar não sem antes sacodir o velho chapéu de chuva e balançar minhas gangas de marca que estão a pingar enxarcadas não me posto diante das prateleiras seculares tenho pressa para uma bica em grande chávena loiça fina das Índias porque não pois sim se calhar uma Sagres sumo ou Bock uma francesinha sandes tosta mista ou um prego nada sei melhor uma Pedra Salgada não há lisa já estão todos cá Saramago Del Pilar cimeiro narrador ao narratário actual MU(l)TI em seu fato negro galardoado em factos o quão todos estupefactos Camões e os barões às tintas assinalados parece-me p’ra’lém da Tropabana não estou a afirmar mas seus factores idiossincráticos refletctem um não querer mais que bem querer académico Florbela fogo-fátuo a santificar palavras poemática poeta poetisa em pedras e portas que se abrem janelas d’almas fugidias fatigadas cegas em tanto mais em ensaio sobre o tal ver deuses infinitos alma de sonhos Eça é tão boa ó messa cortiça de tantos Portos ceifa e restolho vindima e lagar de Póvoa alentejana padre Basílio cujo tal primo Amaro em terras de pecado pôs-se provável Alegria deste e d’outro mundo onde andam todos pois? põem-se um miúdo a chamar pela húmida coalhada de folhas Caídas Garrett seu homónimo e Sá-Carneiro Pessoa homem duplicado por vezes nas calhas da roda fingidor Caeiro Campos Reis Epicuro e Soares todos à Brasileira chegam em malta à borla-boleia de caminhar passam Mártires Evangelho segundo o Pai e Sá da Costa logo a quina estão todos cá quase todos Sylvio e Guerra ainda não contam Back espera Cruz e Sousa na tasca dialogam o desterro Ruy em partagas posta-restante para Calabar de Conceção Excecional e vêm cá ter todos gargalhadas são muitos nomes é noite dos fumos do tabaco de Castelo Branco alentejano aos copos tudo fervilha toma forma Severa guitarra lamento de Reis a reclamar ó José anda cá mataste-me a quantas por quê? será batel jangada de pedra isso já não nos importa qual o quê o mundo não nos interessa mas mataste-me mais e mais o coração de ferro se calhar às vezes sangra posto que nenhumas para saístes da caverna para matar-me? Por que não ao Salazar? trazes cravos primaveris para mim neste 25? traze-me rosas que dizes Espanca charneca Oiro d’Ouro giestas para ser grande sê inteiro? concordas Álvaro avaro Évora por que 36? triste fadário mataste-me era 36 dou fé ao 25 mataste-me de uma morte matada mas estamos todos vivos cá estamos cá é facto em Brasil dirás estrelas ouvir tens razão pelas Canárias cantadoiras mataste-me era 36 a charneca floriu terás razões?
(Continua…)
* do livro “Todos os Saramagos” – Páginas Editora