Por que a morte do Major Olimpio muda relação do Congresso com Bolsonaro

Pela primeira vez parlamentares sentiram a proximidade da morte e cobram do governo providências efetivas para controlar a pandemia

Os senadores Major Olímpio e Flávio Bolsonaro - Foto Orlando Brito

A morte do senador Major Olimpio por covid-19 poderá ser um ponto de inflexão na relação do Congresso com Bolsonaro, sobretudo do presidente da Câmara, Arthur Lira, que vinha se mostrando mais flexível em relação à pandemia do que seu antecessor, Rodrigo Maia.
Lira brigou e conseguiu realizar de forma presencial a sessão que o elegeu para a presidência da Câmara, no começo de fevereiro. Depois de eleito, passou a afrouxar as regras de entrada de visitantes na Casa, que haviam sido restringidas por Maia.
Não por acaso a imprensa registrou enormes filas na entrada do Anexo IV da Câmara de visitantes – a maioria prefeitos e vereadores que estavam em Brasília a convite de Bolsonaro – na semana seguinte ao fim do carnaval.

A afinidade era tão grande entre os presidentes das duas casas do Congresso com Bolsonaro que no último dia 25 as mesas da Câmara e do Senado chegaram a publicar atos determinando o retorno de servidores e parlamentares de forma gradual para a retomada dos trabalhos presenciais.

Senador Arolde de Oliveira também vitima da Covid – Foto Orlando Brito

Esses atos sequer consideraram a morte de dois senadores por covid. Afinal, Arolde de Oliveira e José Maranhão, as duas primeiras vítimas fatais do coronavírus no Congresso até então, já passavam da casa dos 80 anos, ou seja, faziam parte do chamado “grupo de risco”.

Major Olimpio, não. Ainda não havia chegado aos 60, além de ter porte atlético e aparentar boa saúde. Esse fato provocou uma onda de medo entre os parlamentares, mesmo naqueles que já foram contaminados, como Arthur Lira. Afinal, a reinfecção é uma realidade.

Arthur Lira, Jair Bolsonaro e Rodrigo Pacheco no Planalto – Foto Orlando Brito

O choque foi tanto que Lira e Pacheco restringiram ainda mais a circulação no Congresso e passaram a cobrar, de forma mais incisiva, providencias por parte do Executivo.
Essa cobrança poderá ser potencializada pelo resultado das últimas pesquisas de opinião, que revelam queda na aprovação do governo Bolsonaro e a percepção da grande maioria dos brasileiros de que a pandemia está fora de controle no Brasil.

Marcelo Queiroga, que toma posse como ministro da Saúde na próxima semana, terá que mostrar competência e agilidade e provar ser diferente do inepto Pazuello. Caso contrário, Bolsonaro poderá enfrentar sérias dificuldades no Congresso. O pessoal do Centrão não costuma ser enterrado junto com o presidente, seja ele quem for.

Deixe seu comentário