Para juros baixos, presidente do BC recomenda vacinação e aperto fiscal

Jair Bolsonaro, Paulo Guedes e Roberto Campos Neto - Foto: Orlando Brito

A fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que investir em vacina contra a covid-19 pode ser mais barato e eficaz tem uma maior importância por aquilo que esta implícito e não falado.

A mensagem de Roberto Campos Neto, quem hoje está em um posto privilegiado de observação de todos os dados da economia, é de que não há mais espaço para injeção desenfreada de dinheiro do governo na economia pelos impactos sobre as contas públicas e na condução da política monetária.

O volume de dinheiro liberado pelo Tesouro Nacional em ajuda à população mais pobre, junto com recursos de socorro às empresas e de liquidez ao sistema financeiro nacional, contribuiu para a travessia deste primeiro impacto da covid. Este movimento de injeção de liquidez de dinheiro na economia mais o processo de redução das taxas de juros a 2%, menor patamar na história, colocou no cenário aquilo que só se conhecia no Brasil na teoria de John Manynard Keynes.

Economista John Maynard Keynes

Agora isso e real. É quando a taxa de juros nominal chega próximo de zero e a política monetária perde tração. Só que nossa economia sempre conviveu com juros elevados e se comparada às taxas de 45% praticadas em 1999, os juros atuais é como se fossem zero diante dos efeitos macroeconômicos.

As discussões feitas pelo integrantes do Copom desde o inicio de 2020 sempre tiveram como pano de fundo esta questão: até que patamar a taxa de juros básica poderia ser reduzida sem comprometer sua eficácia e afetar as regras prudenciais de segurança do sistema financeiro. A redução dos juros foram sendo testadas no mercado procurando garantir a tração sobre a política monetária.

É fato de que, se os efeitos plenos de redução dos juros leva cerca de seis meses, as medidas de injeção de dinheiro na economia pelo governo são imediatas. Nos últimos dias o BC central informou que as liberações de recursos para o sistema financeiro contribuíram com um potencial de ampliação de crédito de R$ 1.274 bilhões, equivale a 17,5% do Produto Interno Bruto.

Por outro lado as medidas do BC para aliviar temporariamente exigências de capital dos bancos contribuíram para que o potencial de oferta de crédito fosse também ampliados em mais R$ 1.348 bilhões, ou seja, 18,4% do PIB. Milhares de micro, pequenas, médias e grandes empresas tomaram recursos com taxas de juros mais baratas do que as praticadas na mesma época de 2019. O dinheiro de auxílio às populações pobres teve uma grande efeito sobre a inflação de alimentos. Seria explicada pelo poder de compra dos mais pobres em contraste com comportamento dos preços das classe A e B que não tiveram aumentos.

A inflação deverá ficar dentro da meta em 2021, opinião que vem sendo questionada no mercado. Alguns analistas acreditam que o aumento dos preços trará estragos no ano que vem.

Se de fato houver ameaça da inflação ficar acima da meta, a autoridade monetária terá que elevar as taxas de juros, o que poderia levar por terra todo o esforço feito até aqui de escapar dos feitos colaterais da covid-19 sobre o crescimento da economia.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central – Foto: Orlando Brito

Um risco maior e mais real, que levou o Roberto Campos Neto a se manifestar a favor da vacinação em massa, e a situação fiscal do governo, assunto que está sob o controle do Ministério da Economia. Um eventual fracasso de Paulo Guedes de controlar os gastos públicos coloca em risco mortal todo o esforço feito pela autoridade monetária de manter o sistema financeiro operando em condições de funcionalidade em 2020.

A política monetária do BC terá que ser repensada para se ajustar a continuidade de uma política fiscal expansionista, sem falar nos efeitos danosos que terá sobre a credibilidade de solvência do Brasil no exterior. Ao contrário, se forem aprovadas medidas no Congresso Nacional de controle de gastos é possível que Brasil seja destinatário de grande volume de recursos internacionais no setor produtivo e nas privatizações, uma vez que a desvalorização do real, um das maiores do mundo, deixou todos os ativos muito baratos.

Entrando mais dólar no País em 2021, o real se valoriza e contribuiu para que a inflação fique nos eixos compatíveis com as atuais taxas de juros. São estes os sinais do que não foi dito por Roberto Campos Neto, mas que está no figurino do dever de um presidente de Banco Central. Um dos raros exemplos, contrário a esta prática, foi do então presidente do FED (banco central dos Estados Unidos), Alan Greenspan, que com suas falas sinalizou rumos para economia americana por um longo período.

O ministro Paulo Guedes, da Economia, e Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, descem na rampa do Planalto – Foto: Orlando Brito

Aqui, de fato, estamos com sinais duvidosos sobre o a retomada do crescimento da economia. O ministro Paulo Guedes, enfraquecido no Executivo e em constante conflito com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. A reforma tributária do governo deixou de ser uma prioridade, e, dependendo de quem ganhar a presidência da Câmara e do Senado, os problemas de Guedes para passar no Congresso suas reformas de controle de gastos podem até se agravar.

Diante de uma dívida pública perto dos 100% do PIB o que está em jogo é a credibilidade da capacidade do Brasil honrar seus compromissos com os credores e a credibilidade na autoridade monetária. Sem esta credibilidade, as ações do BC podem ir pro brejo. Assim, de fato, Roberto Campos Neto tem com o que se preocupar no ano que vem além da sua missão específica de preservar o poder de compra da moeda e a solidez do sistema financeiro.

Deixe seu comentário