Uma nova esquerda está em gestação no país e, provavelmente, nada será como antes até as eleições presidenciais de 2022. Quer queiram ou não os que comandam a esquerda no Brasil, espaços vão se abrir para novas lideranças e novas formas de atuação. Alguns dos atuais líderes estão com seus dias contados.
A experiência internacional mostra que para sobreviver é preciso ceder. Por isso, não levem em tanta conta as declarações feitas aqui e ali de veneração a este ou aquele líder ou a este ou aquele projeto. Repeti-las pode ser apenas uma forma de ganhar tempo enquanto se troca de roupa e se constrói um novo guarda roupa e se cria um novo figurino.
O futuro da esquerda está diretamente vinculado a duas alternativas. Uma delas podemos chamar de transformista. A outra de reconstrutivista. Uma delas é próxima ao que ocorreu na Itália e a outra ao que está ocorrendo na Espanha. Uma delas se relaciona com as formas que o PCI, na Itália, encontrou para sobreviver. A outra se relaciona com a luta do PSOE, na Espanha, para manter sua hegemonia.
O PT, o maior partido de esquerda do Brasil, ainda está com a bola. Caberá a ele escolher um caminho. Diante de sua opção, outras avenidas se abrirão. Para se manter como a principal força de esquerda na Itália, o PCI se abriu, procurou novos aliados, ampliou seu programa e distribuiu poder. O PCI evoluiu de Partido Democrata de Esquerda, nos anos 90, ao Partido Democrático que até recentemente governou a Itália.
A amplitude do Partido Democrático é tamanha que ele é chamado na Itália de partido PEGA-TUDO. Ou seja, é uma espécie de MDB de esquerda. Isso deve significar que para sobreviver, e se manter com a hegemonia da esquerda, o PT vai ter que mudar. Os petistas terão que abrir espaço, ceder poder e compartilhar o futuro com outros líderes e forças políticas. Os petistas terão que se transformar numa frente capaz de atrair e garantir espaço para políticos social-democratas, de esquerda, democratas e de centro. Mas o PT será capaz de trilhar esta vereda sem Lula.
Mas os petistas podem também querer manter a hegemonia na esquerda. Neste caso abrirá espaço para a tentativa de construção de uma alternativa de esquerda no país. O resultado do primeiro turno das eleições presidenciais mostra que este caminho está aberto. O candidato petista, Fernando Haddad, fez 29,28% dos votos e o candidato do PDT, Ciro Gomes, fez 12,47%. Ou seja, estão criadas as condições para lutar pela hegemonia da esquerda.
Esta é a realidade que vive a Espanha. O PSOE quer se manter como o partido hegemônico de esquerda. Para romper com esse predomínio foi criado o movimento Podemos. As eleições para o parlamento em 2016 mostra a divisão criada e a perda de representatividade do PSOE. Os socialistas fizeram 5,4 milhões de votos e elegeram 85 deputados. O Podemos fez 5 milhões de votos e elegeu 71 deputados.
Esta divisão de representação na esquerda brasileira já vem ocorrendo*. A vantagem do PT era sua imagem e a liderança de Lula. Mas com o recente escândalo de corrupção nos governos petistas e a prisão de Lula, está aberta uma vereda para a construção de um movimento alternativo de esquerda. Ciro Gomes pretende ser o líder desta alternativa. A criação de uma frente parlamentar no Senado reunindo PDT, PSB, Rede e PPS aponta nesta direção.
- 2018 — PSB/PDT/PCdoB = 70 deputados — PT = 56.
- 2014 — PSB/PDT/PCdoB = 63 deputados — PT = 68.
- 2010 — PSB/PDT/PCdoB = 77 deputados — PT = 86.
- 2006 — PSB/PDT/PCdoB = 64 deputados — PT = 83.
- 2002 — PSB/PDT/PCdoB = 55 deputados — PT = 91.
- 1998 — PSB/PDT/PCdoB = 50 deputados — PT = 59.
- 1994— PSB/PDT/PCdoB = 59 deputados — PT = 50.