Qual é o limite para credulidade absoluta? Penso sempre sobre isso quando leio certas coisas nos diversos grupos de que faço parte. E me vem aquela máxima do velho comediante americano Groucho Marx, que, lançando mão do recurso de levar o sarcasmo ao limite, cravou: não entro para clubes que me aceitam como sócio.
Mesmo sem qualquer vestígio do talento do terceiro irmão Marx, indago: como tantos grupos me aceitam? E alguns, poucos, são constituídos de adeptos do capitão. É deles que quero falar. De como é inacreditável seus integrantes acreditarem em tudo que vem do comando de lá, do gabinete do ódio.
Logo cedo chega um “salve”, como diria o chefe da milícia. É hora então de repetir notícias falsas, defender versões inverossímeis e bancar o valente à prudente distância.
E tudo começou na pré-campanha eleitoral. Foi quando a pauta moralista, conservadora, retrógrada, hipócrita, mostrou que tinha uma longa estrada aberta para a pregação. Daí, para virar curva de rio pequeno foi menos que um passo de pernas curtas. Só para ficar claro, é na curva que todas as tranqueiras se amontoam. Dá uma lista interminável delas, como as mentiras, que vão da mamadeira de piroca às queimadas da Amazônia provocadas por ONGs… E essas pessoas acreditando.
A prática da divulgação de notícias falsas somada à tática do confronto serviu para o capitão preservar um grupo de eleitores fanatizados. No momento que o país atinge o segundo lugar no macabro ranking de mortes da Covid-19, assistimos diariamente o governo e seus Tonton Macoute lançando na esgotosfera versões criminosas ou acusações levianas. Praticam o humor mórbido para atacar os adversários ao mesmo tempo que louvam a inépcia do governo.
Enquanto isso, em meio à maior pandemia mundial em um século, quem responde pelo Ministério da Saúde é um general. Com certeza, a ideia era matar o vírus a bala, mesmo porque acreditam nas armas como solução para tudo.
Mas agora a situação está ficando cada vez mais perigosa. Ora, ora, e eis que a pauta é o golpe.
Parem de inventar versões, narrativas e justificativas. Quem fala em golpe desde sempre é o capitão, a corja que o cerca e os descerebrados dos filhos. E já falava antes, quando louvava ditadores e torturadores, desdenhava o número de mortos pela ditadura – para ele tinha que ser 30 mil, no mínimo- e debochava das famílias dos desaparecidos dizendo que “quem procura osso é cachorro”. Não se via dele um gesto em favor da democracia. Agora, cercado de fanáticos e militares com punhos de renda, rendidos pelas mordomias, vem com esse papo de vítima. Ele é autor do que pode vir pela frente.
Quem mais fala em golpe a não ser ele?
Hoje, tenta junto com o exército de robôs remunerado com verbas públicas enfiar goela abaixo a versão de que o STF é de esquerda. Nem o mais abestalhado dos milicianos acredita nisso. Defendem apenas para apoiar o capitão alucinado.
E não adianta disfarçar, pois quem apoia esse discurso também é golpista e um dia vai prestar contas por isso, nem que seja para o espelho. É assim que um obscuro tenente, alçado à patente de capitão depois de ser afastado do Exército por suspeita de ato terrorista, quer governar.
Na feliz definição do cientista político e advogado Melillo Dinis, vivemos um presidencialismo de colisão. E é preciso alertar que o Brasil, governado por quem só sabe agir no confronto, está sendo tomado de assalto por uma raça golpista!
PS: Colegas disseram que eu estava escrevendo com pessimismo, sem humor. Um destacou que o sarcasmo e alguma graça, recorrentes em textos anteriores, haviam sumido. Agradeci as observações e passei a refletir: será que estão certos? Não achei a resposta, sei apenas que não vejo motivo para graça, leveza ou otimismo no momento.