A autoproclamação do ator Zé de Abreu como presidente do Brasil, no embalo da moda de Juan Guaidó, na Venezuela, deve ser olhada com atenção.
Considerando as condições que impulsionam o novo populismo radical de direita, aqui e fora, Abreu cumpre requisitos para ser o lado B, construído com tijolos da velha ordem lulista. Abreu seria outsider, não da política tradicional. Não teria nenhum óbice em criticar privilégios e comprar brigas de propósito com o establishment, para autopromoção. Ele cabe na demanda por lideranças que falem o que pensam com coragem.
Ator, tem apelo entre ativistas culturais e de direitos humanos que organizaram o #EleNão, até porque é costumas defensor dos direitos de nem tão minorias assim. Tem vantagem competitiva nos setores médios divididos entre lulistas e os esgotados com a presença da esquerda nas páginas policiais, portanto não “peca” perante uma base ideológica por não tê-los defendido, como foi um déficit de Marina Silva para ser competitiva em 2018. Ainda que defenda os ex-presidentes petistas, não tem contra si acusação de corrupção, porém, claramente, tem posições radicais em temas sociais. É hábil usuário e influenciador de redes sociais. Encaixa como uma luva na oposição que o grupo Globo tem feito ao governo, de quem é funcionário.
Se Bolsonaro é um Trump tropical, Abreu poderia ser muito um Ronald Reagan vermelho. A três anos de novas eleições presidenciais, um perfil que se assemelhe mais à aparência antissistema de José Mujica (Uruguai), Lenin Moreno (Equador) e AMLO (México), não é nada mau quando se tem imagem destroçada por um tsunami de denúncias e prisões. Jogo bom para o Abreu. Ele já revela sua aptidão para um populismo de esquerda, ao arrumar emprego para funcionário da Gol demitido após ajudá-lo fora do serviço, ou chamar para a briga expoentes do bolsonarismo, como a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann, incendiando a arena polarizada das redes sociais. Só que sem o intelectualismo doutrinário da sinistra radical europeia, que, por isso, não avança um palmo contra a ascensão de figuras como Marine Le Pen. Uma biografia de artista sempre dá um razoável storytelling para pessoas comuns do povo.
Visto do tempo presente, 2022 tende a ser uma corrida entre quem é mais populista até lá, mas chega em melhores condições de atrair um centro pequeno e desgastado desde 2015, um novo centro formado pelos que não dão carta branca para Bolsonaro e quem tiver as pontes mais firmes com o mercado. Para este, perceber com quem poderia negociar mais vantajosamente uma agenda econômica. Caberá saber se esta agenda econômica terá apoio na opinião pública na hora H. Abreu é um forte candidato a líder da alt-left, cujo maior destaque atual é Ciro Gomes, que explora o voto antipetista não-ideológico em Bolsonaro, e a desconfiança do fã-clube fiel do capitão com o general Mourão.