Enquanto os cofres públicos continuam sendo saqueados por esquemas como as “rachadinhas” ou o “QG da Proprina”, este último comandado pelo prefeito Marcelo Crivella, do Rio de Janeiro, o combate à corrupção sofre mais um duro golpe, entre os muitos que tem enfrentado ao longo dos últimos dois anos.
A decisão do ministro do Supremo Kassio Nunes Marques, no apagar das luzes do recesso de fim de ano, afrouxando a Lei da Ficha Limpa, uma das maiores conquistas da sociedade nos últimos anos, foi um verdadeiro presente de natal antecipado aos corruptos.
Infelizmente, o Brasil ainda precisa de Leis como a da Ficha Limpa para manter os “amigos do alheio” longe dos cofres públicos, pelo menos por um tempo. E uma decisão como a do ministro Nunes Marques só enfraquece os avanços sociais de combate à corrupção.
Afinal, a Lei já estava consolidada e suas regras pacificadas por entendimentos anteriores do próprio Supremo. Ao reabrir a discussão, certamente criará brechas para que corruptos de todos os matizes políticos possam tentar burla-la e tenham acesso novamente à chave do cofre.
Esse tipo de comportamento não surpreende ninguém. Afinal, o que esperar de alguém indicado pelo enrolado presidente do Progressistas, o senador Ciro Nogueira? O problema é que ao assumir uma vaga na mais alta corte do País, o juiz torna-se um guardião da Constituição Federal e a ela a quem deve obediência e fidelidade e não a grupos políticos.
Satisfeito com a atuação do seu escolhido, Bolsonaro mostra que, ao contrário do que prometeu na campanha eleitoral de 2018, o combate à corrupção nunca foi prioridade do seu governo. Ao contrário, desde que assumiu a presidência da República, vem fazendo o que Romero Jucá sugeriu e não conseguiu.
Os partidos de oposição que o criticam em público, certamente o aplaudem nos bastidores. Afinal, quem teria coragem de desmontar a Lava Jato como Bolsonaro vem fazendo? Ao indicar Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República e Nunes Marques para o Supremo, o combate à corrupção fica cada vez mais fraco. E os vilões da corrupção cada vez mais fortes.