A situação da Covid-19 representada pelo número de óbitos está melhorando seguidamente desde agosto, mas essa mensagem acaba não ficando clara por conta de um critério definido pela Rede Globo para mostrar a situação por estado.
Sem nenhuma conotação negativa contra a Rede (sou telespectador regular e gosto da seriedade jornalística) reafirmo aqui o que já publiquei em dois artigos anteriores: os critérios adotados pelos ditos “especialistas” para as cores do mapa do Brasil tem um erro conceitual ao definir que o AZUL ocorre quando existe uma redução maior que 15% em relação a duas semanas atrás. Me parece óbvio que, quando um estado desce seguidamente de um ponto alto ou platô e chega numa “planície”, será impossível cair 15% regularmente. Assim, quando a pandemia acabar, todos os estados estarão em AMARELO! E nunca teremos um mapa AZUL, como todos esperaríamos.
Dou aqui uma sugestão simples: Usar o ponto de pico e uma comparação do nível atual em relação ao pico. Com isso podemos ver que 19 estados já estão a caminho da planície e apenas 8 (BA, GO, DF, TO, MS, MG, PR e RS) estão ainda tentando de distanciar do pico, como pode ser visto (no visual mesmo!) nos excelentes mapas por estado do @Mauricio Garcia no linkedin (anexo).
Talvez RO e RJ possam ser incluídos nesse grupo dos indecisos porque oscilam muito. OBS: Por esse critério, nenhum estado está na subida! Olhem especialmente e por exemplo os mapas do Ceará, Pernambuco e Maranhão (lá embaixo). O mapa da Globo do sábado (26/09) mostra esses estados em AMARELO, quando já estão bem perto do chão!
Visto isso, vamos falar dos números (bons!) que estão aparecendo, onde abaixo mostro o número de óbitos e o percentual de acréscimo/ decréscimo apenas dos últimos 30 dias do mês (pra nivelar com meses de 31 dias), em relação aos 30 dias anteriores, lembrando sempre que trabalho com números arredondados pra facilitar.
abril 5.700 óbitos
maio 23.000 = +300%
junho 30.200 = + 31%
julho 32.000 = +6,0%
agosto 28.000 = – 14,3%
setembro 22.600 = – 19,3%, totalizando perto de 143.000 óbitos no Brasil
Arrisco aqui a colocar uma estimativa para outubro, similar a que fiz no mês de setembro no artigo passado, onde, fiz 3 estimativas em torno de 21.100 óbitos, e setembro vai fechar com algo em torno de 22.600 significando um acerto perto de 93% ( o erro maior foi porque usei números muito arredondados. Vou melhorar aqui).
Não tenho bola de cristal. Apenas olhei a performance do passado e projetei como tendência para o futuro.
Vamos ver as últimas quinzenas abaixo:
Os últimos 15 dias de agosto mostraram 13.600 óbitos.
Na primeira quinzena de setembro foram 11.700 com redução de 1.800 (-13,2%. Lembrar do 7 de setembro com redução nas informações);
A segunda quinzena de setembro estimo (faltam 3 dias) em 10.700, com redução de 1.000 (-11,5%);
Mantida essa taxa de redução, a primeira quinzena de outubro apontaria para 9.500 óbitos e a segunda quinzena em 8.300, totalizando 17.800, uma redução de 22% (!) em relação a setembro, mas, mesmo assim, levando o total de óbitos no Brasil para pouco mais de 160.000.
Sendo um pouco mais otimista, a taxa de redução cresceria um pouco, fazendo o mês de outubro fechar em 14.000, mas dificilmente abaixo disso. Mas já apontando para um mês de novembro iniciando com 300 óbitos/dia (redução sensível já que ficamos 90 dias acima de 1.000!). Pelos quadros anexados lá em baixo, dá pra ver que 400 óbitos/dia ou 2 óbitos por milhão de habitantes parecem ser um referencial “mágico”, enquanto não temos a explicação científica.
Como eu expliquei no artigo passado e talvez não tenha ficado muito claro, 300 a 400 óbitos/dia já encaixam a Covid-19 nos padrões (até abaixo) de várias doenças comuns no Brasil, por exemplo: Pneumonia = 430/dia , AVC =315/dia, Infarto =310/dia (dados do site oficial dos cartórios do Brasil de Jan a ago deste ano).
Quer dizer que em novembro acabou a pandemia? virou uma doença comum? podemos sair e aglomerar? NÃO!!! NÃO e NÃO!
Segue um resumo do porque NÃO, que vou explorar com mais detalhes em outro artigo:
Vamos dividir a população brasileira em 3 grupos, sendo A) os que se cuidaram mais e ficaram em quarentena mais firme; B) os que tiveram que trabalhar e sair, mas se cuidaram; e C) os que relaxaram mais cedo.
Nesses 3 grupos, os que se contaminaram mais (grupo C) são os que tem menor letalidade (mais jovens) e os que se cuidaram mais (grupo A) são os que se contaminaram menos em termos absolutos, porém com a maior letalidade ( por causa de idade e co-morbidades).
Isso quer dizer que, se houver uma abertura total, muitos milhares, principalmente do grupo A, ainda vão morrer (Turma do Grupo C, cuidem dos seus pais e avós!) e os do grupo C, muito menos, porque já atingiram algum tipo de imunidade. E todas as projeções de redução acima “vão para o brejo”!
Aliás, em relação a esse tema da imunidade e pra encerrar, segue uma excelente notícia.
Em entrevista recentíssima, de dois dias atrás, o Professor Miguel Nicollelis informa que está investigando e vai publicar estudo mostrando que uma contaminação prévia de Dengue, parece fortemente relacionada com uma pequena infecção de COVID-19, como se a Dengue criasse aquela proteção que todos esperamos de uma vacina.
Comprovou essa correlação em vários locais do Brasil com taxas muito abaixo da média e ampliou o estudo para cobrir outros países incluindo a África, que realmente esconde um mistério, já que os países mais pobres não foram seriamente afetados pela pandemia e não havia uma explicação razoável para isso.
É uma excelente noticia, porque abre perspectivas inclusive para vacinas dengue fazendo efeito para proteger contra covid-19. Enquanto isso, vamos nos cuidando!
(*) Paulo Milet. Formado em Matemática pela UnB e pós graduado em adm pública pela FGV RJ – Consultor e empresário nas áreas de Tecnologia, Gestão e EaD (www.eschola.com)