Bento Gonçalves, o político que uniu forças heterogêneas no RS

No encerramento da Semana Farroupilha, quando os gaúchos comemoram os feitos da Guerra dos Farrapos, saiba mais sobre seu principal líder, Bento Gonçalves

Revolução Farroupilha (1835-1845)

Neste domingo, 27, se encerram as comemorações da Semana Farroupilha, jornada de festividades em torno do dia 20 de setembro, conhecido como Dia do Gaúcho. O movimento reverencia o primeiro presidente da República Rio-Grandense, Bento Gonçalves, que compôs politicamente forças heterogêneas compostas de republicanos radicais, republicanos moderados, liberais monarquistas e monarquistas moderados, para derrubar o governo provincial do conservador Antônio Rodrigues Fernandes Braga, nomeado pela Regência Una. Este feito político, num estado tradicionalmente polarizado, somente se repetiu outra vez na história em 1930, quando o então presidente (governador) do estado, Getúlio Vargas, quase cem anos depois, concluiu a Frente Única, unindo chimangos e maragatos num só exército rebelde. Eles tomaram o poder no Rio de Janeiro.

General Bento Gonçalves

A Guerra dos Farrapos faz parte dos movimentos autonomistas do Partido Liberal no processo que os historiadores denominam de revoltas regenciais, que se produziram em todo o País, com diferentes configurações. Este ano comemora-se 182 anos da eclosão da Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul. O movimento republicano e separatista teve adesões da Bahia (Sabinada, chefiada pelo médico Fernando Sabino), Minas Gerais (Revolta da Vila do Príncipe, organizada por Teófilo Otoni), São Paulo (Sorocaba, liderada pelo ex-regente Feijó) e a República Juliana, em Santa Catarina que teve a participação, dentre outros, da heroína Anita Garibaldi. Estes movimentos foram organizados dentro das obediências da maçonaria. Todos acabaram em composições políticas, negociadas pelo general conde de Caxias, também maçom.

Bento Gonçalves era o venerável grão mestre da Loja Filantropia e Liberdade, que tinha o Gabinete de Leitura da Sociedade Continentino, de Pelotas. Caxias, sua contraparte legalista, era maçom iniciado na Loja Simbólica Dois de Dezembro, do Rio de Janeiro. O Tratado de Paz de Ponche Verde, que encerrou a luta armada, foi negociado na gestão do segundo presidente da República, Gomes Jardim, também maçom.

Usina de rebeliões republicanas

A maçonaria foi o lugar de convergência e de conspiração dos principais movimentos rebeldes no Brasil a partir do final do regime colonial. Apenas a Inconfidência Mineira não teve participação direta dos maçons. A primeira entidade maçônica no Brasil, a Loja Cavaleiros da Luz, de Salvador, derivada de Montpelier, na França, foi a inspiradora da Conjuração Baiana (revolta dos alfaiates), em Salvador.

A revolução pernambucana de 1817 originou-se na loja Areópago de Itambé, fundada em 1796, no Recife. A independência do Brasil, em 1822, se estruturou nas lojas Grande Oriente Brasiliano (GOP), de origem francesa, e Grande Oriente do Passeio (GOP), tido como guia dos maçons escoceses, e ainda pelo Supremo Conselho do Grau 33 do Rito Escocês Antigo e Aceito, comandado pelo independentista baiano Francisco Montezuma. O papel da maçonaria foi decisivo para organizar frentes políticas, integrando facções rivais que se digladiavam nas ruas, para ações políticas convergentes.

Centros de tradições

Rodi Borghetti, do Movimento Tradicionalista Gaúcho – Foto: Luiz Ávila
Pinturas das tradições gaúchas nos centros de cultura do Rio Grande do Sul

A revolução farroupilha é lembrada em todo o mundo, nos centros de tradições gaúchas, entidades cívico culturais denominadas Centros de Tradições Gaúchas (CTGs), organizadas em torno do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), congregando cerca de 1.169 entidades com um quadro social em torno de quatro milhões de associados, segundo o ex-presidente do MTG, Rudi Borghetti.

Há CTGs em todos os estados brasileiros e no exterior, inclusive na China, Japão, Europa, América do Norte, América do Sul. Estas associações existem onde gaúchos naturais ou descendentes se reúnem para cultuar os fatos heroicos verificados durante a campanha militar da Guerra dos Farrapos, travada entre 1835 e 1845, contra o Império do Brasil.

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