Os rastros do nazismo empesteiam Bolsonaro. Sorridente, tripudiando sobre as mais de 550 mil mortes na pandemia, o capitão estendeu o tapete para a linhagem direta da suástica rubro-morte, responsável pelo holocausto, atrocidade que resultou no genocídio de mais de 6 milhões de pessoas, exterminadas em câmaras de gás e campos de concentração. Abraçado à deputada e ao marido dela, Bolsonaro foi dedurado nas redes sociais sobre a reunião que optou por esconder na agenda oficial: “Um encontro impressionante no Brasil: gostaria de agradecer ao presidente brasileiro a amistosa recepção e estou impressionado com sua clara compreensão dos problemas da Europa e dos desafios políticos de nosso tempo”, entregou a deputada alemã Beatrix Von Storch.
Storch é uma das lideranças do partido de extrema direita Alternativa para Alemanha (AfD). Ela é neta de Johann Ludwig Schwerin von Krosigk, ministro das Finanças de Adolf Hitler por mais de 12 anos. Criminoso de guerra, ele foi julgado e condenado pelo Tribunal de Nuremberg. Assim como o avô, responsável pelo confisco de bens dos judeus, Vons Storch e xenófoba. O AfD é a principal força da oposição a Angela Merkel. Em março de 2021 o partido foi colocado em vigilância por serviços de inteligência interna da Alemanha. A nova epifania nazista, dentro do Palácio do Planalto no final de julho de 2021, não é inédita. Na visita ao Brasil, a deputada também foi recebida pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, que viajou para justificar o encontro. A parlamentar alemã ainda teve reuniões com os deputados Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, e Bia Kicis, presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Histriônicos, ambos são investigados por ações contra a democracia e pregações golpistas.
A descoberta da antropóloga Adriana Dias também descortinou outra manifestação nazista. Ela garimpou, em pelo menos três sites neonazistas brasileiros, uma carta escrita por Jair Bolsonaro quando deputado federal. Publicadas pelo site “The Intercept Brasil”, em julho 2021, as informações mostram que o apoio de neonazistas foi recebido positivamente pelo ‘hauptmann’ brasileiro. Na carta de 17 de dezembro de 2004, acompanhada da foto de Bolsonaro e um link para o site que usava na época, ele agradece os leitores pelo apoio. O então deputado também anuncia, segundo o UOL, que protocolou requerimento para realizar uma sessão solene na Câmara em homenagem aos militares mortos em batalhas contra a Guerrilha do Araguaia. O carniceiro do Araguaia, Major Curió, foi recebido com honras no Palácio do Planalto. A laia rasteira de açougueiros e covardes como Alfredo Stroessner, Augusto Pinochet e Brilhante Ustra são sempre reverenciados pelo capitão exatamente como a deputada nazista. Um e outra idolatram magarefes e professam o ódio.
“Todo retorno que tenho dos comunicados se transforma em estímulo ao meu trabalho. Vocês são a razão da existência do meu mandato”, diz a carta, publicada em ao menos três sites neonazistas brasileiros. Conforme explicado pelo “The Intercept” não há como provar que a carta foi escrita para o site neonazista, mas a pesquisadora não encontrou a mensagem em outros lugares. O documento encontrado por Adriana Dias seria mais uma prova do apoio de neonazistas brasileiros como parte da base bolsonarista há quase duas décadas.
Em 2016, ainda deputado federal, Jair Bolsonaro posou ao lado do candidato nazista a vereador no Rio de Janeiro, Marco Antônio, conhecido como o “sósia de Hitler”. Na foto, Bolsonaro aparece sorrindo ao lado do homem vestido igual ao ditador alemão, que ostentava broches militares no paletó e o usava o mesmo bigode e corte de cabelo característicos de Hitler. Em 2018, após a eleição de Jair Bolsonaro à presidência, a conta no Twitter da bancada do mesmo AfD alemão reproduziu uma mensagem do deputado Petr Bystron felicitando o capitão pela vitória. “Jair Bolsonaro é um conservador franco que vem trabalhando para combater a corrupção de esquerda e restaurar a segurança e prosperidade para o seu povo”, disse o deputado colega de Beatrix Von Storch. Os órfãos do führer sonham em estender seus tentáculos criminosos em domínios onde nazistas se esconderam.
Além das interações, elogios a Hitler, os expedientes do 3o Reich são mantras no caos bolsonarista: hostilizar a imprensa, culpar os comunistas pelos fracassos, incensar a mitomania, adotar a mentira como método, propagandear falsidades, cultuar a morte, armar a população, militarizar os cargos públicos civis e disseminar do ódio contra todas as minorias, adversários, pensadores, escritores e a academia. O que o capitão diz, pensa e faz tem similitudes repugnantes com as teses centrais do nazismo. Desde 2020 embala sua noite dos cristais, uma ruptura já vocalizada em várias ocasiões, ora de viva voz, ora pelos filhos, ora por aliados e tentada por seu preceptor diabólico, Donald Trump no Capitólio, após ser defenestrado pelo eleitor norte-americano.
Em reiteradas oportunidades, todas elas sem provas ou indícios, o capitão investiu para deslegitimar as instituições, sabotar a democracia, espancar a Justiça Eleitoral e atentar contra o livre exercício dos Poderes. Os pedidos de impeachment por crime de responsabilidade se acumulam quase na mesma proporção das estéreis notas de repúdio a cada relincho autoritário vindo da estrebaria bolsonarista. Os últimos ataques golpistas conspiram contra a democracia representativa tentando enfraquecer as instituições, encorajar o enfrentamento e impulsionar milícias desmioladas. Depois de dois anos sugerindo delirantes fraudes eleitorais para defender o anacrônico voto impresso, capitulou e reconheceu o crime de ter mentido e atentado contra a democracia. As bravatas, de uma valentia covarde, não convencem. As ruas e o Congresso o deixaram falando sozinho no retrocesso eleitoral.
Os desvarios na tentativa de subjugar o STF, como fez o 3 Reich com o sistema judiciário alemão, são patológicos. Desde maio de 2020, quando passou a pregar o golpe abertamente nas ruas, Jair Bolsonaro tem o STF como alvo prioritário. Por lá perdeu em todos os arreganhos autoritários, grande parte por unanimidade. Nas manifestações que Bolsonaro prestigiou e convocou, faixas pediram o fechamento do Congresso e da Suprema Corte. Quando Alexandre Ramagem foi barrado na PF, por ferir o princípio da impessoalidade, muitas ameaças. Após a busca e apreensão contra aliados ele regurgitou: “acabou porra”. Depois da quebra de sigilo dos amigos que desafiaram a democracia voltou a ameaçar: “Está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar”. Após os escândalos de corrupção na compra de vacinas, já se sabe qual o devido lugar dele e da sua militância meliante.
Os alvos, ações ou discursos se revezam na rotina ociosa de Jair Bolsonaro, da prole e dos aliados. Para intimidar a imprensa, ele mesmo o faz. Para tentar emparedar os ministros do Suprema Corte se reveza com cães de guarda que vão sendo sacrificados enquanto preserva a si e os filhos com acenos falsos para as instituições. Um dos porta-vozes da hidrofobia acéfala, um deputado cujo nome já está na latrina da história, foi preso por ameaças e ofensas a várias integrantes da Corte. O capitão desenvolveu um gosto por comentários insidiosos contra o Judiciário, ministros e, mais recentemente, a Justiça Eleitoral. Os fanáticos que preconizam golpes e rupturas, abusando da dissimulação, formam a primeira fileira de doutrinação nazista. Entre eles uma constelação raquítica e pálida de estrelas militares, emporcalhadas pelo desempenho medíocre e desonestidade de suas mais altas patentes em cargos chaves da atual gestão.
Outros expedientes nazistas, replicados da propaganda de Joseph Goebbels, são nítidos por aqui. O bordão “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, reciclou o marketing hitlerista associando o conceito de pátria à sacralidade da Providência do mandatário que ambiciona se eternizar no poder em nome de Deus. Outro falso messias. Hitler também se anunciava como uma entidade divina, enviada para salvar o povo de uma grande miséria. “Deutschland über alles” (Alemanha acima de tudo) era o verso do hino cantado pelos nazistas. Além da insanidade, outros atributos do capitão o equiparam ao cabo alemão: mediocridade, ego explosivo, belicoso, neurótico, intolerante, manipulador e a paranoia conspiratória, segundo a qual todos querem derrubá-lo. Bolsonaro reproduz todos estes comportamentos doentios desde sua ascensão ao poder. Há quem tente disfarçar o indisfarçável.
Bolsonaro vai adaptando os métodos do 3 Reich quando a realidade determina. Ora tenta a capturar órgãos de Estado, como Abin, PF e setores militares, ora estimula o confronto, ora ressuscita bravatas. Tentou asfixiar financeiramente os jornais e ameaça a liberdade de imprensa reiteradamente. “Porrada”, “vai pra puta que pariu”, “cala boca” e outros rasgos de autoritarismo são frequentes. Perto desse tiranete, o truculento Newton Cruz, o “Nini” da ditadura militar, era um lorde. “O certo é tirar de circulação — não vou fazer isso, porque sou democrata — tirar de circulação Globo, Folha de S.Paulo, Estadão, Antagonista, são fábricas de fake news”, ameaçou o falso democrata mirando o seu segundo maior inimigo – a imprensa – na sua jihad insana e pessoal.
A segregação é outra manifestação da índole nazista de Bolsonaro. “O que acontece na sala de aula: você tem um garoto muito bom, você pode colocar na sala com melhores. Você tem um garoto muito atrasado, você faz a mesma coisa. O pessoal acha que juntando tudo, vai dar certo. Não vai dar certo. A tendência é todo mundo ir na esteira daquele com menor inteligência. Nivela por baixo. É esse o espírito que existe no Brasil”, pontificou o pedagogo Bolsonaro, apontado pela expressiva maioria da sociedade como “pouco inteligente”. Hitler e seus assassinos deportavam e encarceravam em campos de concentração pessoas com deficiência, judeus, gays, comunistas e dissidentes. A eugenia, sinônimo de barbárie, foi a base do terror nazista. Não faltam nos trópicos candidatos a Einchmann, Himmler, Göring e Goebbels.
Outro expediente nazista indisfarçável é a obsessão pelo Estado Policial, que deu origem a Bolsonaro através da tocaia política da Lava Jato. O Estado Policial foi a expressão mais aterradora do nazismo. Hitler criou e robusteceu grupos paramilitares à medida que concentrava poder. A Gestapo, a SS e SA foram inchadas e, ao final, unificadas no aparato estatal com propósitos políticos. A Gestapo, a polícia secreta e partidária, era a mais temida. Os expedientes repressivos são os mesmos usados hoje no Brasil instrumentalizando segmentos da PF e das Forças Armadas: monitoramento de oponentes, intimidação de adversários, custódias arbitrárias, perseguição a minorias, delações e espionagens. A Gestapo foi a peça central de terror durante o Terceiro Reich. O julgamento de Nuremberg declarou a Gestapo como organização criminosa. Dois de seus dirigentes carniceiros (Heinrich Himmler e Hermann Göring) se mataram.
Os simpatizantes nazistas no governo são muitos. A Secretaria de Comunicação da Presidência, quando chefiada por Fábio Wajngarten, produziu uma peça publicitária em maio de 2020, em plena ascensão da pandemia conspirando contra o isolamento social. Ela foi compartilhada pelo capitão e, em determinado trecho, afirma: “O trabalho, a união e a verdade nos libertará”. O erro de concordância foi corrigido. Mas a inscrição nazista na entrada do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia: “Arbeit macht frei” (o trabalho liberta) é eterna. O ex-chanceler da anti-diplomacia, isolacionista e servil aos EUA, Ernesto Araújo, também foi pressionado a se retratar por comparar erroneamente o isolamento social aos infames campos de concentração. Essa figura tosca também causou mal-estar ao mencionar a sigla SPQR no Senado, usurpada por movimentos neofascistas.
Araújo, escorraçado do governo depois de esfolar a diplomacia com asneiras e xenofobias, também ostenta um outro rastro nazista. O pai dele, Henrique Fonseca de Araújo, foi procurador-geral no governo militar de Ernesto Geisel, e deu pareceres contrários à extradição do nazista Gustav Franz Wagner. Wagner, subcomandante do campo de concentração de Sobibor (Polônia) foi responsabilizado por 250 mil mortes entre 1942 e 1943. Ele foi descoberto no Brasil em 1978 pelo famoso caçador de nazista Simon Wiesenthal. O pai do Ernesto, revelou o jornal “Folha de São Paulo”, recusou quatro pedidos de extradição: da Polônia, Áustria, Alemanha e Israel. Araújo disse que o pai defendia o Estado de Direito. Resta saber se ele consegue diferenciar Estado de Direito dos crimes contra a humanidade.
O assessor internacional da Presidência da República, Felipe Martins foi flagrado em março de 2021 reproduzindo um gesto durante o depoimento do então chanceler, Ernesto Araújo ao Senado Federal, sobre os empecilhos do Brasil na aquisição de vacinas contra a Covid-19. Uma semana depois, Araújo foi expelido em uma mexida ministerial. Senadores protestaram contra Felipe Martins. O gesto com a mãos é um símbolo supremacista da raça branca, como concluiu uma apuração do próprio Senado. O assessor alegou que ajustava a lapela do paletó e negou a eugenia, excrescência que redundou na solução final. Martins permaneceu no cargo e isso diz muito sobre o governo, seus integrantes e suas índoles. O mesmo gesto foi reproduzido por um apoiador de Bolsonaro em frente ao Alvorada. O capitão foi gentil: “Sei que é um gesto bacana, mas não pega bem pra mim”.
Em janeiro de 2020, ao som de Richard Wagner (compositor predileto de Hitler), o então secretário de Cultura de Bolsonaro, Roberto Alvim, plagiou trechos de um pronunciamento do ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels: “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, afirmou Alvim em vídeo. Goebbels havia dito: “A arte alemã da próxima década será heroica, será ferrenhamente romântica, será desprovida de sentimentalismo e objetiva, será nacional com um grande pathos e será ao mesmo tempo imperativa e vinculante – ou não será nada”, disse Goebbels em um discurso. A fala de Alvim resgatava a grande queima de livros em 1933 na Alemanha, quando Hitler já era chanceler e pregava a limpeza cultural.
Golpes e Goebbels florescem no ambiente de Nações em crise profunda, com desemprego elevado, insegurança, inflação alta, fome, violência, recessão, instabilidades jurídicas, políticas e institucionais. Esse foi o cenário na República de Weimar, laboratório ideal para chocar o ovo da serpente e promover um genocida, Adolfo Hitler. A cartilha é repetida no Brasil. O manual de terra arrasada, aplicado à risca pela incompetente equipe do capitão, embute tensões permanentes, confrontos físicos, provocações, ameaças, ações para armar grupos paramilitares, a milícia, deslegitimar as instituições e disseminar o ódio visando a desestabilização até o caos. Momento no qual o projeto de ditador delira em se apresentar como o redentor, o organizador do caos, em nome de Deus.
Para disfarçar as omissões durante a Lava Jato, a resistência vem sendo comandada pelo STF que faz o bolsonarismo sangrar. O oposto do que ocorreu na Alemanha, onde o Judiciário se acocorou. A captura do Judiciário alemão se deu após vitória da tese do nazista Carl Schmitt. Por ela o guardião da Constituição de Weimar era o presidente do Reich, legitimado pela vontade popular. O Judiciário enfraquecido foi decisivo para Hitler pisotear a humanidade. Recentemente o STF ganhou um reforço de peso, uma CPI no Senado da República que potencializou os protestos de rua, eviscerou a face corrupta do governo e caiu nas graças da sociedade. A aliança entre os 2 poderes desestabilizou completamente o capitão, que ensandeceu. Bolsonaro é um bastardo do nazismo, tramando um 4 Reich impossível. Está em acelerado e irreversível processo de decomposição.