Em 2020 a agência de medicamentos da União Europeia, equivalente a Anvisa no Brasil, alertou que o uso de cloroquina ou hidroxicloroquina está associado ao risco de distúrbios psiquiátricos e comportamentos suicidas. Acredito que isso pode explicar o surto psicótico coletivo que vemos hoje no Brasil com essas manifestações dos “patriotas” revoltados com os resultados das urnas.
Sim, porque não há como não perceber que uma parcela considerável da população entrou em surto e saiu às ruas fechando estradas e acampando em frente aos quarteis do Exército pedindo intervenção militar. Pior, pedindo ditadura para garantir a liberdade, coisas completamente incompatíveis.
Ninguém em sã consciência defende intervenção militar, especialmente num país que viveu mais de 20 anos sob uma ditadura militar. Não gosta do presidente eleito? Ok. É normal, faz parte da democracia. Faça oposição e lute para vencer as próximas eleições, mas daí a pedir um golpe vai uma distancia abissal.
Desde o fim do segundo turno a sensação é de que estamos vivendo uma realidade paralela, entramos em Setealém (outra dimensão que coexiste ao mesmo tempo que a nossa própria realidade, mas de uma forma obscura). São situações inimagináveis. A imagem do “patriota” agarrado na frente de um caminhão em movimento é simplesmente surreal.
Ao longo das últimas duas semanas vimos de tudo. Gente cantando o hino nacional e fazendo saudação nazista; pessoas ajoelhadas na rua com o terço na mão, inclusive uma atriz famosa, a Cássia Kis, pedindo intervenção federal e ao mesmo tempo falando em liberdade (como já disse, coisas incompatíveis); brasileiros cantando o Hino Nacional em frente a um pneu (?) e por aí vai. Pior, defendendo um presidente que não cumpriu nenhuma das promessas de campanha, passou 4 anos criando conflitos entre os poderes para gerar instabilidade institucional, fez pouco caso das mortes durante a pandemia espalhando fake news e dificultando a compra das vacinas, ao invés de trabalhar vivia passeando de moto e fazendo campanha eleitoral antecipada e usando o santo nome de Deus em vão.
Aliás, essa mistura de política e religião não é nada recomendável. Nos países onde isso acontece a realidade é bem difícil. Regra geral parte da população distorce a realidade por idolatria. Talvez essa seja uma outra explicação para tantos disparates.
E a quantidade de fake news que brotam aos borbotões nas redes sociais? Esse é um capítulo à parte. Ver pessoas ajoelhadas na rua rezando e comemorando uma suposta prisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, maior desafeto de Bolsonaro, foi bizarro.
Para se ter uma ideia do nível de desinformação que circula por aí, o lutador de MMA, Vitor Belfort, um homem viajado, caiu em uma pegadinha (neste caso foi mais piada do que fake news mesmo) de criança de quinta série. Além de um post, chegou a gravar um vídeo pedindo para que um tal General “Benjamim Arrola” (rs, desculpa, mas não tem como não rir) aparecesse. Esse graduado oficial, segundo a “notícia”, teria dado um prazo de 24h ao TSE para admitir a fraude nas urnas.
As cacofonias não pararam no “general”. Surgiram especialistas japoneses, russos e de outras nacionalidades, garantindo que foram detectadas falhas nas urnas. Talvez para compensar o fiasco do relatório da Defesa – último fio de esperança de Bolsonaro – seus seguidores acreditaram nessas brincadeiras para tentar mudar o que já está sacramentado: o resultado da eleição. O pior é que muitas dessas notícias foram curtidas e compartilhadas por pessoas que realmente acreditaram nelas. Não é possível tanta loucura.
A grande preocupação agora é tentar conseguir fazer com que essa turma saia do surto e volte ao normal. Afinal, muitos são pais, mães, pessoas normais que conviviam normalmente conosco até bem pouco tempo. Nem mesmo os comandantes das Forças Armadas estão aguentando os “patriotas” em frente aos quarteis do Exército. Pediram ajuda à Polícia Militar do Distrito Federal para controlar a situação.
Nem Freud explica tanta maluquice!
Veja o vídeo do lutador Vitor Belfort: