Lula botou o chapéu na cadeira. Está ocupada. Para sentar, deve-se pedir licença, como se faziam nos bailes de antigamente. Fernando Haddad é o nome do ex-presidente. O maior partido do campo da esquerda, o PT, tem candidato. Quem quiser entrar na dança terá de considerar que o bailarino do chefão está na pista. Qualquer negociação começa aí.
Desta vez o presidente de honra do maior partido político representado no Congresso não está tirando um nome do bolso do colete, como foi em 2018, quando teve de improvisar. Em 2022, o ex-prefeito de São Paulo já arranca cacifado com a visibilidade do “recall” da campanha anterior, quando conseguiu uma votação expressiva na condição de anti-Bolsonaro. Isto é o que se chamada de “handicap”, na gíria dos hipódromos, ou “luz”, nas corridas de cancha reta. Quem olhar o quadro, verá Haddad ali, na primeira fila, às frente dos demais.
Lula não podia esperar. A pesquisa que indica seu candidato na liderança, com 12%, saiu indicando que, na mesma faixa, o perigoso Ciro Gomes está encostado no ex-prefeito com 11% das intensões de voto, o que constitui uma ameaça real no caso de uma negociação entre aliados. Com Haddad no partidor, o PT já tem uma posição real de onde recuar. Estrategista, o ex-presidente.
O partidor está sendo montando
Os demais candidatos na área oposicionista não representam ameaça ao petista – pelo menos, nesta fase inicial. Todos com um magro dígito. Seguem-se Luciano Huck com 7%, Guilherme Boulos com 6%, João Dória com 4%, João Amoedo e Luiz Henrique Mandetta com 3%. Numa negociação da hipotética (e desejada por muitos) frente ampla, o adversário perigoso na indicação pela cabeça de chapa seria o ex-governador do Ceará.
Lula agiu rápido, cravando um nome antes que outros aparecessem para turvar o horizonte, como o do ex-governador da Bahia, Jacques Wagner, sonho de consumo de algumas alas do PT.
Neste torvelinho, com Haddad e Wagner disputando beleza, Ciro poderia subir nas pesquisas e reivindicar a candidatura das forças oposicionistas. Ele é também o melhor colocado nas simulações de segundo turno, perdendo para Bolsonaro por 39% a 37%, uma diferença pequena que pode ser tirada numa campanha bem conduzida. Os demais perdem feio. Na verdade, apenas o juiz Sérgio Moro venceria o atual presidente, por 36% a 32%, mas o paranaense está fora da política, como indicou ao se dedicar à advocacia.
Seu futuro como causídico é brilhante, pode ficar rico e circular como estrela no mundo jurídico internacional. Como candidato teria de amargar uma campanha cruel e aguentar chefetes políticos de legendas de aluguel. Dificilmente Moro teria chapa nos grandes e tradicionais partidos. Seu futuro seria um nanico da ultradireita. Futuro incerto e descabido.
Lula x Bolsonaro
Extrapolando este cenário, daria para recolocar no quadro o partidor de 2022, com Bolsonaro numa posição competitiva de segundo turno, atraindo contra si todas as oposições, tal qual em 2018. Com uma diferença: em 2022 não teria a unanimidade da direita, podendo fazer somar, contra si, esquerda e centro. Ou seja, segmentos do MDB, PSDB, DEM e partidos aliados que o apoiaram no segundo turno, estariam contra ele, sem os furos representados pelos tucanos de São Paulo e Rio Grande do Sul, por exemplo, como se viu em 2018.
Se for assim, a final será entre Haddad e Bolsonaro. Ciro não poderia se omitir. João Dória concorreria à reeleição em São Paulo. Boulos daria mais um passo para ser a nova estrela da esquerda. Luciano Huck, antes de tudo, pegaria a vaga do Faustão na Rede Globo, mantendo sua posição de grande estrela da televisão, com ganhos financeiros consideráveis, o que não é desprezível. É isto que Lula estaria vendo.
Outra alternativa: na última hora, tal qual Getúlio Vargas em 1950, de posse da ficha limpa, o ex-presidente “cristianizaria” seu candidato e entraria no páreo tendo escapado das chibatas da campanha eleitoral prolongada. Sonho de uma noite de verão dos dois lados: a esquerda que imagina seu candidato imbatível; Bolsonaro que está querendo encerrar sua carreira num confronto direto com seu arquiadversário. Seria o embate do século, como nunca antes na História deste País.