Em vídeo divulgado no Twitter, na noite de terça, 7, o presidente Michel Temer, com o olhar inexpressivo e a voz embriagante que lhe são peculiares, pediu apoio dos cidadãos do país – não os 3% que, segundo o Ibope, aprovam o seu governo, a todos mesmo – para levar adiante a reforma da Previdência, em tramitação no Congresso.
“Você, meu amigo que está me ouvindo, quando possa, converse com seu amigo, no seu trabalho, na sua atividade, na sua casa, converse onde estiver, mostrando a todos que a reforma previdenciária é fundamental para o nosso país”, apelou Temer, que parecia mesmo acreditar no que estava dizendo. Temer tentava corrigir o sincericídio da véspera. Na segunda, 6, na abertura de reunião com líderes da Câmara dos Deputados, admitira que talvez não consiga votar a reforma-fetiche em seu mandato.
A bolsa despencou e o mercado espetou mais um alfinete no vodu presidencial. Em nova tentativa de melhorar a imagem – inclusive, e principalmente, nas redes sociais -, o governo vai anunciar nesta quinta-feira, 9, o Projeto Avançar, que prevê investimentos de R$ 42,15 bilhões até o fim de 2018, ano eleitoral.
O uso de redes sociais e plataformas alternativas de mídia por chefes de estado em todo o mundo é hoje uma ferramenta obrigatória e banal de comunicação, distanciando-nos dos tempos em que a “semana do presidente” na TV ou a “conversa ao pé do rádio” eram iniciativas modernas de diálogo com a população.
Basta lembrar da “Semana do Presidente”, presente de Silvio Santos à ditadura, transmitida durante o governo de João Figueiredo, na agonia do regime militar.
Não que TV e rádio não tenham seu alcance específico, mas não dá pra viver hoje fora dos notebooks e celulares dos brasileiros.
Temer, reconheça-se, tem sido impelido por seus assessores a se comunicar pelas redes sociais. Geralmente adota o arquétipo terno e gravata, e tem visível dificuldade em falar coloquialmente. Em julho, chegou a arriscar um visual mais informal, de camisa azul, sem gravata, dirigindo-se ao telespectador como “minhas amigas e meus amigos”. Falou de inflação e juros em queda. Deu o que pareciam ser boas notícias. Mas, convenhamos, continuava sendo o Temer.
O problema, dizem especialistas, não está nas redes sociais, está no personagem. Ou, para atualizarmos também nosso discurso, na marca Temer. Por isso a estratégia para suavizar a imagem de Temer e torná-lo “gente como a gente” até agora não deu certo.
“As marcas entenderam que precisam das redes sociais pra se comunicar, e os políticos, claro, foram na carona. É uma estratégia comunicacional, num meio muito potente, disseminável, rastreável, metrificável. O problema é que o Temer, como outros políticos, entrou no digital porque está na moda, não porque é genuíno dele estar no digital. É um leitor de teleprompter, e pronto”, opina Marcos Hiller, sócio-fundador da Hiller Consulting, especialista em estratégia de marcas e pesquisador de cultura digital.
“Acho que a questão aí tem mais a ver com o presidente do que com a estratégia”, avalia Luiza Fischer, especialista em estratégia e comunicação digital da LGA Comunicação. “E mídias sociais viraram território cruel, principalmente para políticos”, acentua.
“O problema do Temer com as redes sociais é que nelas você depende do engajamento de outros usuários para propagar sua mensagem. E hoje ninguém quer se associar de forma positiva à marca Temer. Grande parte do engajamento é negativo, o que acaba replicando aquela mensagem para segmentos que são contrários a ele e o aumento do alcance acaba sendo mais negativo do que positivo”, explica Vitor Conceição, CEO da startup de jornalismo Meio. “Ele precisaria de uma estratégia de longo prazo para reconstruir sua imagem. Mas tempo, como sabemos, é um luxo a que ele não pode se dar hoje”, completa.
O Twitter de Temer registra uma conta desde 2009, mas foi quando assumiu a Presidência que passou realmente a usa-la. A conta registra 13,3 mil tweets, 891 mil seguidores e 1.022 curtidas. Temer segue, por outro lado, 561 pessoas, entre elas os apresentadores Ratinho, do SBT, Mariana Godoy, da RedeTV!, e Joice Hasselmann, da Jovem Pan. Não se sabe se é ironia, mas a rede social sugere que quem segue Temer também passe a acompanhar a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, onde Temer anda enrascado. Já na sua página oficial do Facebook, Temer registra 603.501 seguidores – inclusive 19 amigos meus que prefiro não revelar. Em ambos os casos, muitos vídeos, mostrando que Temer tem passado boa parte de sua agenda na frente de um tripé.
No Youtube, o perfil sorridente de Michel Temer tem vídeos quase diários, alguns feitos especialmente para o canal, quando se dirige na primeira pessoa ao internauta.
Temer deve persistir no uso das redes sociais, e está certo em fazer isso. Não faria muito sentido propor ao Silvio Santos outro programa televisivo ufanista. O difícil será manter a, digamos, assepsia virtual de seus perfis. Cada vez mais grupos de guerrilha virtual, ou simplesmente internautas inconformados, promovem vomitações nas redes sociais do presidente na internet. Os internautas usam o emoji, símbolo do vômito, nos comentários dos posts da página de Temer como forma de protesto.
Até uma foto do presidente ao lado de seu cachorro Thor – postada no Twitter, no último dia 15/10, – foi alvo de críticas implacáveis. Intitulada “Domingo de Carinho”, a mensagem do peemedebista dizia: “A jornada é difícil, mas sempre há tempo para o Thor.” Os internautas não perdoaram. “Sua cara de felicidade é contagiante. Parece a minha sendo governado por uma junta golpista”, escreveu um. “Thor recebendo energia ruim, tadinho, olha a cara do dog. Deve ser uma zica danada esta mão de traíra de gente e da pátria”, torpedeou outro. Haja estômago até 2018.