Luciano Huck saiu da raia. Ele não quis cozinhar sua própria pele no caldeirão a feijoada maldita. Nada mais esperado, não obstante a efervescência na imprensa. Durante o Carnaval ele alimentou o noticiário político. Agora é cinzas.
O apresentador já dissera a seus patrões na Rede Globo, há semanas, que não seria candidato a nada. O refluxo do noticiário foi uma boa “tirada” do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso par dar um susto no PSDB, como declarou com todas as letras, mas ninguém acreditou.
As pessoas que conhecem o meio ambiente da comunicação (a grande imprensa em todas suas formas, em geral formada por empresas tradicionais), avaliavam que Huck já havia tomado a decisão. Voltar atrás seria jogar toda sua carreira na sarjeta. Quando disse à família Marinho, lá atrás, que não seria candidato, fechou a porta. O que não impediu, entretanto, que seu nome voltasse à baila e que ele próprio fizesse alguns movimentos suspeitos.
Huck é um apresentador, portanto, para a tevê, é a cara da emissora enquanto está no ar. Isto é muito sério para a instituição mídia; Huck é também um grande negócio para suas empresas, portanto, como diz o nome, trata-se de um “homem de negócios”, ou seja, uma pessoa que tem uma relação de confiança com seus parceiros. Pelo volume de seus patrocínios e a importância de seus anunciantes ele não pode ser leviano e ficar num vou-não-vou. Portanto, quando disse não era não, efetivamente. Voltar atrás (não respeitar o fio do bigode, dizia-se no passado) seria molecagem. Impensável.
Mas a coisa continuou. Não se pode negar de pés juntos que ele não tenha sentido o bater de asas do zumbido da mosca azul, mas também é certo que não se deixou seduzir pelo canto da sereia. Agora está numa sinuca: apoia ou não apoia alguém? Como cidadão teria esse direito e até mesmo o dever de ter um candidato, embora não seja obrigado a declarar. O voto continua secreto. Entretanto, Luciano já não é mais um eleitor comum. Botou o pé no barro, ficou marcado. Se declarar voto está ferrado.
A candidatura de Huck é produto de um sonho de um dos tecnocratas mais competentes do país, Paulo Guedes, hoje já bandeado para as fileiras de Jair Bolsonaro. É o ministro da Fazenda do capitão. Ele viu uma miragem nos 40 milhões de seguidores de Huck no Face book. Especulando, soube que o apresentador é uma pessoa politizada. Fechou.
Entretanto não é essa a realidade: o bom-moço seria submetido a um corredor polonês insuportável. Esta foi a experiência de outra unanimidade nacional do passado, o falecido empresário Antônio Ermírio de Morais. A contragosto ele topou candidatar-se para “salvar o Brasil”, como era o bordão de seus amigos que o levaram a aceitar concorrer ao governo de São Paulo. Foi um desastre. Ele perdeu a eleição e sofreu tanto que nunca mais recuperou sua espontaneidade.
Como tantas causas que estão em voga no Brasil trazidas dos Estados Unidos, também o lamaçal eleitoral é uma cópia grosseira dos maus costumes da grande nação do Norte. Certamente isto é uma das causas do pântano malcheiroso destes momentos de nossa História. Nenhum estado, nenhum sistema institucional resiste à tamanha desagregação. O caldeirão (sem a menor alusão ao Huck) cozinha uma feijoada composta por empresários corruptores e políticos corrompidos, misturados a políticos corruptores com empresários corruptos. Quem não compõe esta receita está fora do jogo. É isto que queriam entregar para o jovem paulista. Ele pegou seu boné a foi cantar na sua freguesia, onde todos são bons e só se vê alegria e otimismo. Melhor assim.