Hora de impor limites aos arruaceiros

Como crianças birrentas, os baderneiros precisam entender que a brincadeira já foi longe demais

Manifestantes bolsonaristas tentam invadir a sede da PF. Foto: Reprodução /TV Globo

Admito que fui uma boa tia, especialmente para os sobrinhos mais velhos, cuja diferença de idade era pouca. Naquela época, minha paciência com crianças era bem maior, coisa que tento recuperar agora com meus netos.

Bolsonaristas cantam o hino nacional para pneu durante bloqueio de rodovia

Amanda tinha uns três ou quatro anos, se bem me lembro, quando, passeando pelo Conjunto Nacional, ela deu uma birra daquelas de matar de vergonha a tia legal. Na hora lembrei das crianças que via fazendo isso e da raiva que sentia dos pais que não tomavam atitude. Se fosse meu filho, pensava, ia apanhar só para aprender.

Apesar de não ser minha filha, tinha liberdade para corrigi-la, caso precisasse. Mas, aprendi, há momentos em que a gente fica sem atitude mesmo, louca para o ataque da mini terrorista passar e não ser preciso usar a força bruta.

Não foi o que aconteceu com Amanda, ela resolveu contestar todas as teorias de psicologia infantil que eu achava que tinha introjetado, e continuou dando escândalo na frente dos outros por um bom tempo. Com isso, todos os meus esforços teóricos e práticos para ser uma pessoa serena e equilibrada caíram por terra.

Acabei tendo de usar a força, dei-lhe uns tapas (tomara que a Xuxa não leia isso), agarrei sua mão com força e levei-a de volta para casa, exaurida com a situação. Ela, logo em seguida, agindo como se nada tivesse acontecido, curtiu o caminho cantarolando uma canção no carro.

Jair Bolsonaro – Foto Orlando Brito

Depois de quase acabar comigo, de demolir meus conceitos sobre como tratar bem uma criança e ser um adulto bacana, ela cantava. Talvez porque naquele momento ela quisesse, mesmo sem saber, receber um pouco de limite dessa tia que costumava lhe fazer todas as vontades.

Cheguei a essa conclusão, provavelmente para justificar minha atitude agressiva: ela queria mesmo era testar meus limites.

Bem, voltando aos dias atuais, em que pessoas que se autoproclamam patriotas resolveram tocar o terror no centro da capital, penso que é isso que elas estejam querendo: testar os limites.

Como crianças birrentas, que querem impor sua vontade e não gostam das regras que os adultos inventaram, arruaceiros bolsonaristas não param de fazer malcriações.

Enquanto estavam nos quartéis cantando marcha soldado e hino nacional para pneu, comendo carne, pegando chuva e se divertindo nas poças d’água, sonhando com a salvação vinda dos extraterrestres, já que seu líder maior não lhes dá a menor bola, todo o mundo da normalidade preferiu não confrontar. A aposta era a de que isso iria passar, iria desidratar aos poucos.

Moraes manda prender cacique Tserere – Foto Reprodução

Mas, diante da barbárie ocorrida a partir da prisão de um indígena usado para instigar atos golpistas, não dá mais para deixar eles continuarem a brincar de revoltadinhos.

A hora é de os adultos da história mostrarem que tudo tem limite, eles também. E acabarem com a brincadeira de golpe das crianças malcriadas, que já durou tempo demais.

Alguém precisa dizer para eles, em alto e bom som, o que Bolsonaro já deve ter dito para os filhos, já que vivia bradando por aí: Acabou, porra!!

 

PS. Pensando melhor, resolvi esclarecer alguns pontos:
1. Foram tapas leves, nada que pudesse machucar a menina, mesmo assim reconheço que não deveria ter agido assim.
2. Qualquer agressão física contra crianças, mesmo as mais leves, não são aceitáveis. Há formas mais eficientes e menos covardes de corrigir atitudes erradas na infância.

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