A popularidade é baixa, bem baixa, conforme vêm demonstrando as pesquisas. Denúncias de corrupção e problemas de saúde derrubam uma média de um ministro por mês. As delações premiadas da Odebrecht e outras na Operação Lava-Jato atingem em cheio caciques do PMDB e próceres do governo. No mínimo, obrigam notas e explicações. Da cadeia, o ex-deputado Eduardo Cunha manda recados e provoca constrangimentos. Tudo isso somado parece gerar uma sensação de derretimento do governo Michel Temer. Ou, pelo menos, de manutenção da alta temperatura que antes fustigava Dilma Rousseff e que levou ao seu impeachment.
À margem de tudo isso, no entanto, o governo Temer possui maioria folgada no Congresso. Não encontra maiores problemas para ver passar seus pacotes e projetos. Navega no Legislativo com relativa tranquilidade, contornando os problemas sem que ali eles se transformem em crise.
É um curioso paradoxo que se explica pelas características de estilo e personalidade de Michel Temer e de seu governo. Um paradoxo que parece evidenciar como são bem distintas as visões que hoje têm a sociedade dos problemas do país e as visões que têm seus representantes no Congresso.
Michel Temer sempre foi um mestre da chamada pequena política, aquela que se caracteriza pela administração dos interesses mais pessoais e particulares dos atores do jogo. Aquele tipo de política que, num determinado momento do governo Dilma, ficou sob a responsabilidade dele e do hoje ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e que foi batizada à época de “Posto Ipiranga”: qualquer que fosse a necessidade ou desejo, era ao “Posto Ipiranga” que se devia recorrer.
Temer é tão mestre nesse quesito que conseguiu manter-se no posto de presidente do PMDB mesmo quando tal permanência era então combatida pelo governo, no início da gestão de Lula na Presidência. E tão mestre nisso que, mesmo combatido, ele conseguiu ser o regente da adesão oficial do PMDB aos governos petistas. Vale recordar.
Como presidente do PMDB, Temer levou o partido a oficialmente apoiar José Serra, candidato do PSDB, na eleição em que ele foi derrotado por Lula. Na formação do governo, José Dirceu, que seria em seguida ministro da Casa Civil, negociava para que o PMDB aderisse à coalizão. Em determinado momento, Lula desautorizou a continuidade das negociações, por não confiar em Temer. Avaliou que era melhor o governo negociar com o PMDB no varejo, cooptando parlamentares caso a caso, a partir de um comando paralelo dos então senadores José Sarney e Renan Calheiros. Dizem que esse modelo é uma das raízes do que depois ficou conhecido como mensalão.
Imaginava-se que, enfraquecido nesse processo. Temer acabaria sendo derrubado da Presidência do PMDB. Mas, ao contrário, não só Temer conseguiu manter-se no comando do partido como, após estourar o escândalo do mensalão, foi trabalhando para levar o partido para dentro do governo petista. Ao final da era Lula, ele estava longe de ser o adversário interno de Lula. Tão longe que virou o vice-presidente após a eleição de Dilma. Mais do que isso, era Temer alguém que conduzira a entrada do PMDB no governo de forma pela primeira vez unificada.
Mais recentemente, depois da derrocada de Dilma, Temer construiu o processo para substituí-la e manter-se no poder. Um processo que tem como principal substância justamente a obtenção dessa tranquilidade congressual. Essa é a lógica de seu ministério. A lógica da suas relações. O tempo mostrará até onde isso de fato o beneficia.