O senhor Jair Bolsonaro não deve ser subestimado. Afinal, ele se elegeu com 57 milhões de votos, mostrando que se trata de um líder político. Ele venceu uma disputa, contra todo tipo de previsão, na qual incorporou o antipetismo, a rejeição à política tradicional e o sentimento de antipolítica que possuiu os eleitores. Mas ao mesmo tempo, é preciso registrar que nunca um presidente eleito, em tão pouco tempo, repetiu tantas vezes a frase: “Sou eu quem manda!”. Como se ele precisasse deixar claro aos outros, e talvez a si mesmo, sobre quem está no comando do governo eleito.
Mas também chama a atenção que, no passado recente pelo menos, não há presidente que tenha nomeado ministros tão fortes e representativos na opinião pública e no mercado financeiro. Os ministros Paulo Guedes, que vai dirigir a economia, e Sérgio Moro, que estará à frente da Justiça, têm um peso simbólico ainda não devidamente dimensionado. Eles têm um peso político, mesmo que não tenham recebido um único voto, numa dimensão, que podemos dizer, é equivalente a do presidente eleito pelo voto da maioria — 57 milhões de brasileiros.
Nenhum governo trabalha com crises no horizonte, embora estas sempre possam ocorrer. Um governo é como um casamento. Ele se forma para ser feliz para sempre, mas no meio do caminho podem ocorrer separações e estas podem ser amigáveis ou litigiosas. É o caso de nos perguntarmos qual a repercussão política e social no caso de uma demissão do ministro Sérgio Moro, o paladino do combate à corrupção. Sua saída mergulharia qualquer governo numa sombra de suspeitas. Sua nomeação deu credibilidade ao governo Bolsonaro. Mas qual o efeito se ele resolver deixar a Esplanada?
Esta também é a pergunta que fica no ar no caso do ministro Paulo Guedes. Ele é o elo de ligação de um outsider com o mercado financeiro e os liberais. Ele representa a diminuição do papel do estado na economia, carrega a bandeira da privatização e é porta voz das reformas, sobretudo a da Previdência. Sua situação é mais delicada que a de Moro. O ministro da Justiça sintetiza a vontade de enfrentar a corrupção, tema central da campanha. No caso de Guedes, seu programa de ação não foi debatido, e, se pode dizer, que ele contraria parcela importante das forças de Bolsonaro.
Na política, não adianta torcida contra ou apostar que tudo vai dar errado. Quem tem a bola nos pés são os governos. E estes dão certo, ou não, devido aos seus próprios erros e não aos maus agouros. Desentendimentos entre ministros, entre a vontade do presidente e entre o imaginário da opinião pública e a luta pelo poder entre aliados, faz parte do jogo político normal. Mas não há notícia de um presidente que tenha empossado em seu governo ministros com tal peso simbólico como o juiz Sérgio Moro e o economista Paulo Guedes. Por isso, no caso destes, nada será normal.