O depoimento do ministro da Educação na Câmara dos Deputados, e as declarações do presidente da República, sobre os protestos dos estudantes, revelam a situação dos que se propõem a fazer uma política de centro. A radicalização tomou conta das ruas e das palavras. Não há espaço para qualquer tipo de conciliação.
Os políticos vão ter que se alinhar com a direita ou com a esquerda. A reforma da Previdência será o divisor de águas. Não importa quem está certo ou quem está errado. Muito menos o que seria bom ou mau para o Brasil. O que importa é de que lado você está. Nem sempre os desejos prevalecem. Muitas vezes o que seria considerado bom senso é atropelado.
O presidente brasileiro segue a receita de marketing do presidente americano. Ambos elegeram o embate com a oposição seu estilo de governar. As redes sociais e a amplitude da comunicação de massa impedem que exista uma diferença entre fazer campanha e governar. A campanha é permanente.
O atual governo quer derrubar todas as políticas desenvolvidas pela esquerda e pela centro-esquerda desde que o o PSDB assumiu o poder, em 1995. Os governos tucanos e petistas tinham diferenças de amplitude. Mas defendiam a integração global, acreditavam na eficácia das políticas sociais e tinham diferença de ênfase no tratamento ao mercado.
Neste contexto, a radicalização tomou conta da disputa política. E, ao longo dos próximos três anos, todos os partidos e todos os parlamentares terão de se posicionar. Não estamos numa ditadura e nem caminhamos para uma. Mas o ambiente é semelhante ao daquela época, quando era preciso escolher entre ARENA e MDB. Agora, você é Bolsonaro ou é oposição. Vai ficando a cada dia mais claro que não há corda nem muro para os equilibristas.
Mas existem diferenças na realidade dos nossos dias. O presidente americano radicaliza tendo como pano de fundo uma economia em recuperação. O presidente brasileiro aposta no “vai ou racha” com a nossa economia a caminho dos frangalhos, como diz o atual ministro da Economia. Também há diferença, em relação ao combate à ditadura instalada em 1964, sobre quem tem a hegemonia da oposição. Naquela época, o campo era dominado pelos moderados e agora a bola está com a esquerda.